quarta-feira, 12 de novembro de 2008

É preciso lembrar sempre porque escolhemos jornalismo e valorizar o conteúdo que acaba esquecido na TV, explica Cristiana Gomes



Na noite de segunda-feira, 27 de outubro de 2008, tive a oportunidade de conhecer mais sobre o jornalista Vladimir Hezorg. Eu, como uma futura jornalista pouco sabia sobre a vida desse singular personagem da história do Brasil. Há 33 anos, ele tornou-se símbolo da luta contra a ditadura quando morreu aos 38 anos, vítima de penosas torturas no Dops. Nessa noite, acompanhei o Prêmio Vladimir Hezorg de Anistia e Direitos Humanos que têm como objetivo a defesa dos direitos do cidadão.
Rodeada de tantos futuros próximos companheiros de profissão, tinha como encargo entrevistar, Cristiana Gomes, repórter do Jornal Record, que acabara de ganhar o prêmio na categoria Documentário de TV, com a série de reportagens da TV Record “Pará: Terra sem lei”. A série que foi exibida no mês de janeiro de 2008 trouxe os casos de violência no estado, o crescimento do desmatamento na região e escancarou denúncias contra o Incra. Cristiana Gomes é formada em jornalismo pela PUC/RJ e pós-graduada em História da Cultura pela PUC/RJ. Teve sua primeira experiência na TV Educativa.
Ao fundo de nossa conversa, tínhamos o canto do coral, deixando aquele momento ainda mais marcante e emocionante, em uma noite tão especial.

Qual é a importância do Prêmio Vladimir Herzog no Currículo de um jornalista?
É um prêmio que tem muito nome, tem muita credibilidade atrelada a ele. Então, para gente que faz televisão, o jornalismo, é uma honra receber. Porque remete a Direitos Humanos, remete à luta pelo o que é importante na vida e é basicamente isso que a gente tenta fazer no dia-a-dia do jornalismo. Trazer um pouquinho mais de dignidade para a vida das pessoas, quando é possível.
Você acredita que os jornalistas olham muito a profissão como produto e deixam esse lado mais humano de lado?
Eu acho! É difícil, a gente ter que fazer um produto bem feito e não esquecer que a gente está lidando ali com vidas, está lidando com as frustrações ou as esperanças das pessoas. Então, é uma combinação difícil, porque tem que sair bem feito, tem que dar conta do recado, mas tem que ter sempre esse cuidado. É preciso lembrar disso, é um exercício diário.

E como reverter essa situação?
Não sei se é preciso reverter. Eu não acho que todo o mundo esqueça desse lado. Talvez algumas pessoas, pelo corre-corre do dia-a-dia ou pelo tipo de veículo onde trabalham, acabam atropelando e esquecendo desse lado. Para manter o foco, é só refletindo mesmo, tentando lembrar porque a gente escolheu ser jornalista, lá no início.

Vimos que a Record vem recebendo vários prêmios. Hoje recebeu os dois principais de TV e uma menção honrosa. Isso é resultado do quê?
De muito investimento, de uma vontade da Record de mudar sua programação, de vir com muito mais força, muito mais qualidade. A Record agora está lançando um slogan “Jornalismo Verdade”, e nós até sugerimos também que poderia ser jornalismo premiado (risos).
É a vontade mesmo... vontade política de melhorar, é uma linha editorial, não é a toa. Houve esse planejamento, houve investimento e o resultado vem vindo aos pouquinhos.

E qual é a dica que você deixa para os estudantes de jornalismo?
Vou falar justamente da minha área de profissão. Na televisão, a gente está sempre preocupado com a voz, pronunciamento de palavras, passar uma imagem bonita, está bem maquiada e isso não é besteira. É muito importante estar bem cuidado. Mas é preciso valorizar o conteúdo, que às vezes acaba ficando esquecido. Tentar valorizar o conhecimento, a leitura e o interesse por assuntos diversos, porque isso também aparece, até mesmo quando a gente vai cobrir uma matéria de buraco de rua.

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