sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ao ritmo da ditadura

Os músicos brasileiros, na época da ditadura, tentavam expressar o que sentiam através da letra de suas músicas. Não havia liberdade de expressão e, por isso, as canções populares brasileiras eram censuradas e os cantores mais ousados sofriam perseguição, eram exilados, torturados e até mortos.

A ditadura militar está ligada ao período da política brasileira em que os militares, através de um golpe de Estado, governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985 e caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime imposto. Os compositores da música popular brasileira, insatisfeitos com a repressão dos militares, disseminaram suas críticas por meio de letras que tiveram um papel marcante nesta fase.

Em 1968, os estudantes de esquerda ainda eram os piores inimigos da ditadura militar, e passaram a se comunicar com a população por meio da MPB, que atingia grandes massas e ousava a falar o que a maioria não se atrevia. Mas, para censurar essa comunicação musical com o povo, foi implantado o AI-5 pelo Presidente Costa e Silva, um ato institucional que causou a perda de muitas canções e chegou a alterar versos considerados, ironicamente, “subversivos”. Para censurar as músicas foi criado pelo governo a “Divisão de Censura de Diversões Públicas”. As canções, antes de serem lançadas ao público, deveriam passar por esse setor, e cabia a ele aprovar ou não sua divulgação. Não havia um roteiro a ser seguido e a DCDP não aprovava as músicas, muitas vezes, por motivos políticos, ou simplesmente porque não entendia o que o compositor dizia, ou queria dizer.


O principal inimigo do regime militar foi Geraldo Vandré, compositor que ficou polêmico com seu segundo lugar no FIC (Festival Internacional da Canção) com a música que se tornou um verdadeiro hino contra a ditadura militar, a canção “Para não dizer que não falei das flores”, que versava: "Caminhando e cantando e seguindo a canção...". Mas foi no Maracanãzinho que Geraldo Vandré impressionou o povo e consolidou seu hino por liberdade de expressão, pois foi nesta oportunidade que Vandré executou a música, acompanhado somente por seu violão, sem nenhum outro instrumento, mas com as vozes do público presente. Em 1969, ele foi exilado e depois disso nunca mais conseguiu recuperar sua carreira.

Chico Buarque de Hollanda foi o cantor e compositor mais censurado em suas canções de protesto e nas que feriram os costumes morais da época. Na música “Apesar de você”, por exemplo, foi aprovada e fez muito sucesso, porém após o comentário de um jornal de que esta se referia ao então presidente Médici, Chico sofreu todas as repressões possíveis. Para não ser mais banido em seu repertório, ele passou então a utilizar-se de pseudônimos.

Hoje você é quem manda


Falou, tá falado


Não tem discussão


A minha gente hoje anda


Falando de lado


E olhando pro chão, viu


Você que inventou esse estado


E inventou de inventar


Toda a escuridãoVocê que inventou o pecado


Esqueceu-se de inventarO perdão”

Muitos outros artistas foram censurados: Caetano Veloso, Milton Nascimento, Maria Betânia, Ney Matogrosso, Gal Costa, Gonzaguinha, Raul Seixas. Para se ter idéia, até mesmo Mário de Andrade foi vetado por pura ignorância cega da censura.

A ditadura militar foi um forte golpe sobre a música brasileira. Os artistas perderam sua liberdade de expressão diante de inúmeras violências executadas pelo governo militar, mas conseguiram driblar a censura e protestar contra este período. Foi uma época marcante, pois a repressão e o poder dos militares não caia somente sobre os músicos e artistas, de forma geral, mas também sobre toda a comunicação no Brasil: jornais, revistas, emissoras de televisão, etc. Pode-se dizer que não existia o direito de manifestar opiniões, idéias e pensamentos livremente, mas este período também serviu para que conhecêssemos a força do movimento jovem, da arte, da música.

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