terça-feira, 4 de novembro de 2008

Na categoria Revista, a Reportagem "Um Torturador à Solta", é vencedora do Prêmio Vladimir Herzog

O prêmio Vladimir Herzog é o mais importante do jornalismo brasileiro, na área de direitos humanos. Surgiu há 30 anos, após a morte do jornalista Vladimir Herzog, para premiar os jornalistas que denunciavam as ações do regime militar. Hoje é também voltado para a Cidadania.

Dia 27/10 foi realizado no TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo), o 30° Prêmio Wladimir Herzog, onde foram comemorados também os 20 anos da Constituição de 1968.
O evento proporcionou muitas emoções nos espectadores, mas sem dúvida, o momento em que todos se emocionaram, foi ao ver a família Teles reunida no centro do palco, recebendo aplausos, carinho e o respeito de todos ali presentes, por toda garra e coragem desta família, que foi torturada e luta para denunciar o torturador, Coronel Ustra, do antigo DOI – CODI – Paulista, na Ditadura Militar.

Há anos a família vem lutando para que ele seja reconhecido como culpado, perante a justiça brasileira e a sociedade. E foi neste ano que esta longa luta chegou ao fim, graças à ajuda de dois grandes jornalistas, Gilberto Nascimento e Rodrigo Martins, da Carta Capital. Eles escreveram a reportagem “Um Torturador à Solta”, que venceu o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na categoria Revista. O texto dos repórteres chamou a atenção do Ministério Publico Federal, que tomou a iniciativa de entrar com uma ação à Justiça Federal, para responsabilizar civilmente torturadores e autoridades da Ditadura Militar no Brasil, por crimes cometidos no DOI – CODI Paulista, entre 1970 e 1976.

A reportagem deu início a uma discussão de punição aos torturadores que agiam na Ditadura Militar no Brasil. Gilberto Nascimento, afirma que para chegar ao torturador ele contatou ex – presos políticos e colheu informações em pesquisas realizadas na Polícia Civil, assim o localizando no 4° Distrito Policial, em Presidente Prudente. Gilberto relata como foi este encontro:

“Fui encontrá-lo, claro que sem avisar, porque se eu falasse que queria entrevista-lo ele iria sumir. Então, fiquei duas horas, parado em um ponto de ônibus em frente à delegacia, e quando ele chegou, eu o abordei e ele ficou uma fera, e eu acho que ele gostaria que estivéssemos nos tempos de Ditadura, para que ele pudesse me prender, torturar ou fazer qualquer coisa”.

Segundo Gilberto Nascimento, quando ele propôs a reportagem na edição da Carta Capital, Mino Carta, jornalista de grande visão, disse para Gilberto e Rodrigo mostrarem a história deste cidadão, a história da Repressão Política no Brasil, como eram os bastidores, os porões de tortura e quem foram os grandes responsáveis por estes atos.

Rodrigo Martins diz que a ditadura era financiada por Industriais, Empresários e a própria operação urbana, que foi quem inspirou os DOI – CODI espalhados pelo Brasil, e que há registros históricos sobre isso, porém não se sabe mais sobre a participação da sociedade, o apoio e o financiamento para a tortura, porque muitos dos arquivos da ditadura não foram abertos, o que se torna outra batalha:

“O Brasil ainda não abriu os seus arquivos, embora o ministro Paulo Vannuchi, dos Direitos Humanos, que é uma grande figura, ele próprio um ex – torturado, que vem batalhando por esta questão, ele acha que muitos arquivos foram abertos, mas eu acho que muita coisa ainda precisa ser dita, como: quem são os mortos e onde foram enterrados os corpos. Existem muitas informações que o governo Brasileiro precisa dar e não deu. Então a coisa ainda ta para se fazer”.

Rodrigo, ainda afirma que há um movimento de setores dos familiares dos presos políticos, de jornalistas, de militantes dos Direitos Humanos, mas que há uma resistência muito forte dos meios militares e do próprio governo brasileiro, que teme uma reação negativa por parte dos militares, e que é uma luta que ainda precisa ser fortalecida:

“A ditadura tem quase trinta anos, e este ano é o aniversário de vinte anos da Constituição de 88, e até hoje não teve um único torturador que foi responsabilizado e punido. Somente, agora o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi reconhecido como um torturador pela justiça brasileira. É muito tempo, e nesse meio tempo muitos torturadores e mandantes já morreram em paz e imunes”.

Apesar de muitas pessoas parecerem ter esquecido está parte da história do Brasil, há aqueles que querem fazer justiça, e punir os culpados, mas é difícil sem a ajuda da mídia levantando está questão e o governo de tomar alguma atitude. Portanto, a veiculação desta reportagem, de Gilberto e Rodrigo, é de extrema importância, para a imprensa e a sociedade brasileira, se conscientizarem que juntos está luta poderá ser vencida. Pois devemos isso há todos os heróis que morreram, para terem o que hoje temos e que não damos valor, que é a tão sonhada Democracia e a Liberdade de Expressão.

Milene Rolan

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