sexta-feira, 14 de novembro de 2008

André Deak injeta vida nova no jornalismo de grande reportagem na internet pública de interatividade




Entrevista: André Deak



No dia 27 de outubro no TUCA, teatro da PUC em São Paulo, ocorreu o 30º Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos e Anistia, que premia os jornalistas que mais se destacaram na cobertura dos direitos humanos no Brasil.

Tive a oportunidade de entrevistar o jornalista André Deak, que ganhou com sua equipe o prêmio na categoria internet com o documentário interativo “Nação Palmares”.

André Deak é jornalista há dez anos e escreve na maioria das vezes para mídias digitais, foi co-organizador do livro Vozes da Democracia, do Intervozes, organização civil que batalha pelo direito à comunicação, fez parte da produção jornalística independente Coletivo Em Crise. Depois foi trabalhar no portal de notícias Último Segundo, e desde 2004 está na Agência Brasil ,onde é editor executivo multimídia. Fez parte do projeto deschapabranquização da agência, considerada como a agência de veículo público de notícias apartidário. E tem um blog sobre jornalismo online.

Qual a importância desse prêmio para a sua carreira?
O prêmio Vladimir Herzog é o mais importante do jornalismo, primeiro porque eu acho que a questão dos direitos humanos é a mais importante para gente trabalhar com jornalismo e, segundo, porque você viu a qualidade das pessoas na platéia, das pessoas que vieram receber e entregar os prêmios, você tem os melhores jornalistas do país, as pessoas mais envolvidas com a luta pela democracia há muitos anos e é muito bom fazer parte desse time.

Como surgiu a idéia de fazer o documentário sobre os quilombolas?
A Agência Brasil agora faz parte da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), é parte de uma empresa pública de comunicação. Duas questões sempre moveram as pautas que a gente trabalhou ali dentro. Primeiro, o jornalismo de qualidade, só porque é uma empresa pública não é que não da para fazer jornalismo de qualidade, isso é importante, segundo a questão dos direitos humanos, o pessoal da sociedade civil, isso a gente quis trazer de maneira muito forte para dentro da pauta da empresa pública, porque até então, a Rádiobras que era conhecida exclusivamente pela Voz do Brasil era ligada diretamente a assessoria de imprensa do governo, uma cobertura totalmente chapa branca dos eventos que aconteciam em Brasília. Então, a gestão do Eugênio Bucci que foi o jornalista, que foi pra lá para assumir e várias pessoas foram trabalhar com ele nesse projeto, foi pra justamente começar a fazer jornalismo de qualidade e tirar o foco de governo e colocar o foco no cidadão, colocar o foco do jornalismo não só como pauta mas também fazer um jornalismo trabalhado para que o cidadão entendesse coisas da pauta; quer economia, não vamos falar economês; quer política ,então vamos botar a política de um jeito que interesse o cidadão. E, aí, entro dessa maneira forte com movimentos sociais, minorias de todos os tipos e os quilombola faziam parte da nossa cobertura sistemática, é um pessoal que desde a escravidão não tem direito à terra, um pessoal que briga até hoje com fazendeiros, não tem reconhecido direitos básicos, terras principalmente, estão envolvidos diretamente com a reforma agrária e isso fazia parte da nossa cobertura.

O documentário é interativo, você acha que os documentários na mídia digital serão uma grande vantagem no futuro?
Eu acredito totalmente nisso, foi uma experiência já pensando na TV digital a gente fez para internet, mas de qualquer forma vai ter mais espaço para interatividade na televisão não tenha dúvida. Na internet já existe um espaço enorme para interatividade que ninguém utiliza e a interatividade é usada nesse documentário. Assim, em várias aulas de jornalismo, recebemos muito feedback de professores, porque não se trata da soma de linguagens jornalísticas, você não coloca uma coisa no ar e diz assim, assista ao vídeo, leia o texto, veja a foto ou ouça o áudio. Isso é outra coisa, isso é a fusão das linguagens, não é só um vídeo, você interage com ele, você clica e você vê outros vídeos, faz downloads de documentos no meio do vídeo, você acessa elementos na tela e você pode clica e assistir a outro isso tem o nome de hipervídeo. Isso já existia em CD-ROM. A gente levou isso pra internet, mostrei para um cara do New York Times e ele não conhecia isso para internet na época que a gente fez. Agora, eu acho que já existem outros. Eu acho bastante inovador, não sei isso será o futuro, mas que vai ser um braço de interatividade que vai existir.

Eu queria que você explicasse um pouco do termo “Zombie Journalism”?
Isso é de um amigo meu chamado Jorge Rocha que tem um blog que chama “O Jornalismo Morreu!” Ele é um jornalista de Belo Horizonte e ele me faz essa pergunta porque ele fez uma entrevista comigo e no final ele me faz essa pergunta, mas e aí o jornalismo morreu mesmo ou existem zombie jornalism? Aí a gente entrou conversando sobre isso, eu acho que existem. As faculdades não formam direito os jornalistas, as redações massacram ainda mais os profissionais. Ficamos brincando com esse termo de jornalista não morreu ainda, mas é um zumbi ou já morreu e está andando sem cérebro (risos).

Conte um pouco sobre a sua carreira?
Tem dez anos que eu trabalho com jornalismo online, eu acho que eu sou um dos últimos da geração do imigrante digital, porque você tem os nativos digitais que já nasceram nessa época como você. Eu comecei fazendo jornalzinho impresso, eu me formei na Cásper Líbero. Ela me formou para o jornalismo literário, livro reportagem e ai conforme eu fui entrando em internet em 98 com o UOL e essas coisas eu fui descobrindo que dá pra se fazer grandes reportagens em áudio-visual interativas e ai que é o meu tesão de fazer coisas desde alguns anos já. A grande reportagem não precisa ser um texto, pode ser uma coisa totalmente interativa na internet principalmente na internet mais do que na TV digital, a internet tem muitas possibilidades que são muito pouco exploradas e foi uma ótima oportunidade ter passado também na Agência Brasil, porque ali também numa empresa pública você tem chance de experimentar linguagens que em uma empresa normal vinculada com o comercial você não pode testar a não ser que você tenha certeza de lucrar com isso. Foi ótimo ter passado por ali, ter feito experiências e ai agora vem o resultado de que da para fazer jornalismo de qualidade em que ligue o interativo com a empresa pública.

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