sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Para Carlos França, a imprensa deve agir na defesa dos direitos humanos






Já se passam das 21 horas, mãos suadas, ansiedade e às vezes vontade de desistir. Era a primeira vez que entrevistaria alguém.
Foi por indicação de minha professora de jornalismo que fui até o 30o Prêmio Wladimir Herzog, de Anistia e Direitos Humanos; um evento que premia os melhores trabalhos jornalísticos, realizados por estudantes e profissionais do Brasil inteiro, com foco em direitos humanos.
Pois bem, antes de ir ao evento pesquisei a vida inteira dos meus futuros entrevistados, já me sentia praticamente íntimo deles sem ao menos tê-los visto antes. Bastou digitar o nome de um deles que já havia milhares de páginas de pesquisa aberta para que eu pudesse estudar essa personalidade.
Fim do evento, todos os prêmios entregues e hora de atacar! Literalmente corri atrás do meu entrevistado, quase que desesperadamente para que aquela tortura acabasse logo, foi então que vi subindo em minha direção o representante da OAB, Dr. Carlos França, enfim, meu futuro entrevistado.
Me aproximei e perguntei se ele poderia me conceder uma entrevista, fui recebido com muito respeito, embora transparecesse obviamente meu nervosismo e começamos a entrevista:

Repórter - Dr. França, qual a importância da morte de Wladimir Herzog para a luta contra a ditadura militar no Brasil?

Dr. França – A ditadura militar tem dois momentos cruciais, antes e depois da morte de Herzog. Antes da morte dele, os militares eram intocáveis, nessa época a população estava tão amordaçada que os militares pensavam que não haveria uma reação caso cometessem crimes, mas após a morte de Herzog houve uma grande manifestação política que mobilizou a sociedade civil, o rabino Henry Sobel, as Comissões de Anistia, o Grupo Tortura Nunca Mais, todos se reuniram na missa célebre que ocorreu na Catedral da Sé e naquele momento a ditadura percebeu que estava perdendo terreno para a mobilização popular, a liberdade de expressão e houve a queda do Coronel D’ávila e a volta da democracia com a queda da ditadura.

Repórter: Qual a importância do prêmio Herzog para a manutenção dos direitos conquistados pós ditadura?

Dr. França: O ideal é que nunca precisássemos ter um prêmio como esse, mas o prêmio é fundamental, pois apesar do Brasil ter conquistado o estado democrático de direito, a injustiça, a igualdade e alguns direitos básicos são ainda violados e são denunciados pelos jornalistas que participam da premiação. O prêmio é um “Oscar” dos direitos humanos, tanto para jornalistas renomados, quanto para iniciantes e estudantes. Nós da comissão dos Direitos Humanos da OAB já reivindicamos para que o prêmio fosse incluído nos cursos de direito, estamos levando essa proposta para a Fenaj e para que a matéria direitos humanos seja incluída nos cursos de jornalismo, já que são os que mais sofreram com a ditadura militar.


Repórter: Na sua opinião, quais mudanças deveriam ocorrer na imprensa brasileira?

Dr.França: A imprensa está cumprindo o papel dela, ela é fundamental, conhecida até mesmo como o quarto poder, sem ela não existiria a democracia, nem as “diretas”, nem a atual liberdade de expressão. Todos os papéis que ela desempenha como a denúncia à violação dos direitos humanos. Mas a imprensa é burguesa, ela corre atrás de audiência, por isso vemos diversos “Big Brother´s como foi no caso Eloá, isso deveria ser discutido no campo ético, nas comissões de ética da própria imprensa. A imprensa tem que agir mais ainda na causa social e na defesa dos direitos humanos”.

Repórter: Como a OAB defende os direitos humanos da sociedade brasileira?

Dr. França:
Nós da OAB também sofremos muito na época Ditadura Militar, muitos advogados foram presos e exilados, simplesmente por exercer suas funções, muitas das pessoas que eram perseguidas, se abrigaram dentro da OAB,sempre participou na luta dos direitos humanos e das diretas, o papel da OAB é continuar atuando nisso e compartilhar dessas experiências.

Repórter:
O que deve ser mudado para que conquistemos uma verdadeira democracia com direitos humanos para todos e não só para algumas pessoas?

Dr. França: Os direitos Humanos é uma luta constante faz 60 anos da declaração dos direitos do homem e nós ainda temos o preconceito, a discriminação a questão de gênero, como no caso dos agentes que assumiram sua condição sexual e por isso foram presos, torturados moralmente e fisicamente após expor sua situação à imprensa, você faz parte da luta, você pode com a sua atuação na mídia pode transformar isso, o jornalista é um formador de opinião e tem que ter um compromisso social.

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