quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Elifas Andreato cria "Vlado vitorioso" para o prêmio especial da ONU

“Oi, você é estudante de jornalismo, né?!”
Foi assim que o idealizador do Troféu do Prêmio Vladimir Herzog me recepcionou, quando eu pedi para ele tirar uma foto ao lado das estatuetas "Vlado vitorioso", dedicado aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, prêmio especial da ONU aos jornalistas.

Elifas Andreato, misturado aos jornalistas, lá naquela noite de segunda-feira, no TUCA, lembra-se da importância daquele teatro para homenagear os trabalhos em defesa dos direitos humanos:“Diga-se de passagem, é um dos únicos locais símbolo da opressão da ditadura”, disse Andreato.

O artista plástico conta como surgiu a idéia da escultura:“Queria fazer um Vlado vencedor, ao contrário daquele que os ditadores obrigaram a gente a memorizar.” Daí veio à brilhante idéia de fazer aquele troféu, símbolo de uma vitória dos torturados políticos e das pessoas que como Vladimir, lutaram pela verdade. Vlado, com os braços erguidos, simbolizando a vitória daqueles calados brutalmente.

Carlos Dorneles, premiado pelo livro-reportagem "Bar bodega - um crime de imprensa" falou admirado sobre o troféu de Andreato: “Está até parecendo um Oscar. E se você parar pra analisar, o valor desse Vladimir Herzog é quase tão importante pra nós, quanto o Oscar é para os cineastas”.

Conversando com Elifas, percebi que é uma pessoa que guarda muitas mágoas da época da Ditadura: “A gente vê, por exemplo, no filho do Vladimir Herzog, que ele tem muita bagagem disso (Ditadura Militar), e por ser o pai dele que morreu, e tem a mãe dele... você não pode esquecer que ele foi criado pela mãe, quando o Vlado morreu, ele era um menino”. Confidencia-me o seu grande desejo de que a memória das pessoas fossem mais frescas: “A gente tenta preservar a memória, mas é sempre isso, nós temos que permanecer atentos e lutar, porque para alcançar o ideal, a gente não pode deixar de lutar”. Apesar de receber um prêmio da ONU, Andreato ainda continuava modesto e carismático: “Se você considerar quem assina... é uma honra”.

Fiz minha última pergunta, enquanto Elifas procurava a mulher e o neto naquele grande encontro de jornalistas e defensores dos direitos humanos: “O Caco Barcellos disse tudo que eu poderia dizer, estamos longe de conseguir, pelo menos, ter direitos humanos no país, ainda temos que caminhar muito, porque é sempre um momento pra refletir. Mas, seguramente, os números que o Caco disse ali são os números oficiais, o Brasil mata mais gente que os outros países que matam por morte legalizada, sem falar na tortura praticada aí, a torto e a direito. A gente não pode se esquecer disso, que a gente tem muito que caminhar ainda".

Ao encontrar a mulher, Elifas Andreato se despediu, mas deixando, para sempre, uma imagem inesquecível de um Vlado vitorioso entre nós, brasileiros.

Um comentário:

Nat Fernandes disse...

Adorei a reportagem, Elifas com certeza é um grande exemplo de ser humano para todos nós.