sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A imprensa alternativa contra a Ditadura


Anos 60, época de mudar o mundo. Liberdade sexual, guerrilha, viagens à lua, mini saia, feminismo, cabelos compridos. O mundo inteiro parecia querer mudar.
Neste cenário, surgiram diversos movimentos sociais com o objetivo de mudar o sistema, um deles foi a Contracultura, um conjunto de manifestações culturais nascidas nos Estados Unidos, que marcou a cultura americana pelas características presentes, como a rejeição aos tradicionais movimentos militantes. Foi uma tentativa de dar conta de uma nova realidade, onde o cenário mundial se afirmava entre ideologias antagônicas (esquerda x direita). Era uma nova leitura crítica sobre os valores da sociedade, fazia críticas à velha esquerda e seu campo de atuação e, assim, esse movimento se espalhou pelo mundo inteiro de diversas formas.

No Brasil, sob regime da Ditadura, implantada entre 1964 e 1985, a influência da Contracultura que contestava velhas idéias e antigos comportamentos foi manifestada por meio de livros, músicas, literatura, jornais, ganhando, assim, um caráter de mudança, a partir da cultura. É assim que nasce a “cultura alternativa”.Os jornais políticos, respondiam por parte deste emaranhado cultural e, pouco tempo depois, esses periódicos seriam conhecidos como “imprensa alternativa”.

A censura provocou um clima para a criação de jornais alternativos. Era a forma mais legítima e criativa da sociedade tomar conhecimento sobre o que estava acontecendo, os graves crimes praticados no Brasil, como as mortes de presos políticos, as formas de torturas, a ostensiva conivência do Estado com grupos nacionais e multinacionais que controlavam a economia, a violação dos direitos humanos, a dívida externa e outros temas de interesse geral da população. O objetivo principal era criticar o cenário econômico e principalmente político, combater a ditadura, o que a grande mídia não fazia por estar atrelada à ideologia dominante.Durante esse período (1964-1980), surgiram em torno de 160 periódicos nos mais variados gêneros e boa parte deles teve poucas edições, logo fecharam as portas pelas condições em que se encontravam.

O apogeu da imprensa alternativa ocorreu entre 1975 e 1977. Os jornais que mais se destacaram nessa fase foram: O PASQUIM, OPINIÃO, MOVIMENTO, VERSUS, SOL, DE FATO, REPÓRTER E EX.
Vamos conhecer um pouco mais sobre alguns deles:

PIF-PAF: Dois meses depois do golpe chega às bancas, dirigido por Millôr Fernandes. Irreverente e humorista, PIF-PAF critica o regime com textos e desenhos que relatavam os presidentes e as principais lideranças do governo.
Quatro meses depois, na 8ª edição, o jornal é fechado. Motivo: publicou uma fotomontagem do presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, como uma das candidatas ao suposto titulo “MISS ALVORADA 65”.

VERSUS: criado pelo jornalista Marcos Faerman, era um jornal voltado para a cultura, arte, história, com reportagens em estilo literário.

REPÓRTER: caracterizado como uma imprensa que perguntava e apontava questionamentos. Sem pertencer a qualquer facção de esquerda.
Os jornais foram apreendidos várias vezes, sob a alegação de reportagens que atentavam a moral e bons costumes.
A edição 35 de 7 de novembro de 1980 tinha como manchete:“SEXO COM A BOCA”, sobre desvio de recursos públicos para o candidato Paulo Maluf, essa edição foi apontada como a razão do fim do jornal. REPÓRTER foi um dos jornais que mais vendeu em bancas.

O PASQUIM: surge em julho de 1969, em meio a um niilismo na imprensa, pois os jornais ainda não haviam se recuperado do AI-5.
Era comandado pela antiga turma do PIF-PAF.
Usava de linguagem debochada, de constatação bastante atrevida para os padrões da época.
Recorde de vendas, 100 MIL exemplares 4 meses depois do seu lançamento. Em 30 de novembro 1970, boa parte da turma foi presa e o jornal censurado. Motivo: uma brincadeira de um dos humoristas, que colocou D. PEDRO gritando “EU QUERO MOCOTÓ” no quadro "O grito do Ipiranga", fazendo menção à uma música da época considerada de duplo sentido. O Pasquim foi considerado a Lei Áurea da Imprensa. Termina nos anos 90, sendo Homenageado por uma escola de samba. Acabou como começou, fazendo HUMOR.
O EX na história do jornalismo brasileiro
Surgiu em novembro de 1973, no bairro boêmio do Bexiga, em São Paulo, numa
época em que a imprensa estava mais distante do povo. Ex representava uma "imprensa viva", que questiona, que duvida, que enfrenta, vasculha, alerta, depõe, derruba.
Depois de 24 meses de vida, era fechado a mando do Ministro da Justiça, Armando Falcão. A publicação da morte do jornalista e diretor da TV Cultura, Vladimir Herzog, era o motivo. Novamente a censura fechava mais um jornal.

É fato histórico, em regime ditatorial, uma das primeiras providências do governo é tomar o controle total dos meios de comunicação. Por quê? Porque a imprensa pode alcançar um número incalculável de pessoas e mostrar os fatos que deveriam ser ignorados pela população. Ao contrário do que se pode pensar sobre a mídia alternativa, eles não queriam a extinção dos grandes jornais e emissoras, pois suas matérias eram pautadas nas matérias da mídia burguesa. A grande diferença eram os pontos de vista mostrados, a objeção e o questionamento eram a matéria prima dos jornais alternativos.
As grandes polêmicas, as tendências culturais e as artísticas, além das críticas e denúncias não eram encontrados nos jornais da imprensa burguesa, mas nas páginas da imprensa alternativa. Em uma interpretação plausível: foi o caminho, ou melhor, o meio mais consistente de voltar à democracia.

A imprensa alternativa, além de não ter se calado diante da censura, encontrava soluções inteligentes para cada dificuldade imposta. Torna-se importante conhecer nossa história porque só assim podemos entender a trajetória do jornalismo brasileiro e suas alternativas para fazer valer as mudanças no país.

Nenhum comentário: