Amaral Netto, jornalista, repórter, apresentador e político (deputado federal), teve 8 mandatos pelo PMDB/RJ, defendia a pena de morte e os governos militares, utilizando equipamentos de telejornalismo sofisticados para a época para inventar um Brasil que não existia.
"Amaral Netto, o Repórter" invadia as casas dos telespectadores com matérias maquiadas, implantando pensamentos positivos do governo. "Sinto-me feliz todas as noites quando assisto ao noticiário. Porque, no noticiário da TV Globo, o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz”, palavras do então presidente Emílio Médici.
A Globo, emissora hegemônica, nas mãos de empresários, soube navegar nesse mar de ambigüidade por se colocar como líder do processo dessa modernização conservadora da vida brasileira: o ideal do progresso material sem distribuição de renda, vendido como ideologia por um elenco de astros, inimaginável em qualquer outro espetáculo brasileiro. Tal cumplicidade criou condições para o aparecimento de repórteres aduladores do governo autoritário. Esta relação tornou-se comum em algumas emissoras na década de 1970 e foi chamada de função "Amaral Netto".
A escolha dos profissionais que deveriam assumir cargos importantes nas empresas jornalísticas sempre estava sujeita ao veto dos órgãos de segurança. É ilustrativo o depoimento do Ministro da Justiça Armando Falcão (1973-1979), afirmando que o empresário Roberto Marinho, dono da Rede Globo, nunca havia lhe dado nenhum trabalho nem lhe ocasionado nenhum incômodo na veiculação das notícias e na cobertura dos fatos.
A Globo, emissora hegemônica, nas mãos de empresários, soube navegar nesse mar de ambigüidade por se colocar como líder do processo dessa modernização conservadora da vida brasileira: o ideal do progresso material sem distribuição de renda, vendido como ideologia por um elenco de astros, inimaginável em qualquer outro espetáculo brasileiro. Tal cumplicidade criou condições para o aparecimento de repórteres aduladores do governo autoritário. Esta relação tornou-se comum em algumas emissoras na década de 1970 e foi chamada de função "Amaral Netto".
A escolha dos profissionais que deveriam assumir cargos importantes nas empresas jornalísticas sempre estava sujeita ao veto dos órgãos de segurança. É ilustrativo o depoimento do Ministro da Justiça Armando Falcão (1973-1979), afirmando que o empresário Roberto Marinho, dono da Rede Globo, nunca havia lhe dado nenhum trabalho nem lhe ocasionado nenhum incômodo na veiculação das notícias e na cobertura dos fatos.

Os documentários enviavam para dentro das casas imagens de um Brasil quase lenda, uma terra mal conhecida e nem sequer concebida. De certo, sabemos apenas que o repórter esteve lá. Nos confins do imaginável, mostrando a verdadeira face de regiões que permaneciam envoltas em mistério e fantasia.

O clima é bem próximo do que vemos ainda agora nos filmes de natureza, com uma mistura de suspense e heroísmo, iniciado mesmo antes da chegada ao objetivo do programa, já nos percalços que esperam a equipe de Amaral ao longo de sua jornada ao mistério, com o perigo da própria vida. Amaral, porém, arrisca tudo, vence e "esteve lá". Ainda que com a ajuda de aviões da FAB, corvetas da marinha, experts de militares para dar a palavra "científica" final sobre o Brasil desconhecido. E, é claro, Amaral chega lá com suas câmeras e aparato tecnológico.
Todos esses elementos concatenados instituíram um olhar agressivo sobre a natureza brasileira, plenamente integrado ao momento político e ao estágio de aprimoramento tecnológico que o país atravessava. Em suma, um narrador agressivo, buscando tornar inteligível um espaço hostil e exuberante, uma alegoria de Brasil forjada pelas elites de então, também agressivas. Essas elites acreditavam estar realizando um grande salto econômico e tecnológico, a grande modernização conservadora. Nesse ideário delirante, Amaral é quase um poeta embriagado, transmitindo informações e promessas inverossímeis e espetaculares.
Nesse movimento de mostrar o país como em um permanente "estado de guerra" entre natural e civilizado, Amaral, não apenas se liga ao ufanismo militarista do momento, mas, aproxima sua linguagem dos programas de auditório, a estética popular vigente da TV de então. A natureza vira espetáculo, ainda que grotesco. E, para tanto, valia tudo, até mesmo "corporificar" o natural: a pororoca vira "o monstro das mil faces" e o Atol das Rocas, uma inusitada "ilha do nada". "A hidrelétrica de Itaipu, a ponte Rio-Niterói seriam elementos 'cheios', plenos de racionalidade e funcionalidade, enquanto espaços como Rocas se definiriam pelo vazio, a despeito de sua riqueza biótica." O exagero chegou mesmo a incomodar alas do regime militar, que odiavam o ufanismo sem consistência de Amaral, que acaba por funcionar contra a propaganda oficial, cuidadosamente urdida.

Gostem ou não os herdeiros e os defensores entusiasmados da Globo, a verdade é que a história da emissora se confunde com a ditadura no Brasil. A proximidade do empresário com o regime militar passou, mais de uma vez, dos limites do razoável para constituir sua alma publicitária. A intimidade foi de tal ordem, que se dizia, não sem razão, que a Globo, virtualmente, dividia o governo do Brasil com os generais. E, para fixar na mente do brasileiro o emblema daqueles tempos, será, certamente, o programa "Amaral Netto, o Repórter", apoiado nas imagens da natureza selvagem domada pela violência militar, que reproduzirá o lema-inscrição da ditadura: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
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