sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O premiado jornalista Zuenir Ventura ensina humildade com grande sabedoria


"Se você deixar subir à cabeça essas bobagens, você quebra a cara!
É uma profissão onde não dá para você ser arrogante! ", ensina Zuenir Ventura



O 30º prêmio Vladimir Herzog, em outubro de 2008, foi constituído por duas espécies de cerimônia. Na primeira sessão, houve a entrega dos prêmios Herzog, e, em seguida, o Troféu Especial de Imprensa ONU, 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos, foi entregue aos cinco homenageados. Um deles foi Zuenir Ventura, jornalista que se destacou por contribuir com matérias baseadas na defesa dos direitos humanos.

Para mim, foi muito importante ter ido assistir ao evento. Lá eu exerci a minha experiência mais importante de “foquinha” por meio dessa entrevista. Zuenir Ventura é um intelectual de peso no meio jornalístico brasileiro. Pelo que pude perceber, é bastante simpático e humilde. Possui uma grande alma, sem vaidade, conforme poderá ser percebido no decorrer da entrevista.

Impressionou-me ver o quanto foi fácil entrevistá-lo. Logo que cheguei ao Tuca, pouco antes de começar a entrega dos prêmios, encontrei minha querida professora Cecília, que logo o indicou para mim. Quando ele acabou de conceder uma entrevista a uma outra estudante, eu o abordei, no que ele foi muito carinhoso e atencioso comigo.

Por falta de tempo, eu acabei por preparar uma pauta, a meu ver, de conteúdo fraco. Faltou uma investigação minuciosa que, porventura, poderia me dar a base para eu elaborar perguntas mais condizentes com o nível do entrevistado. Para completar, na hora da entrevista, eu não tive a iniciativa de explorar as respostas dele, talvez pela surpresa de já ir entrevistando um jornalista tão importante, bem antes do momento esperado.
Zuenir Ventura escreveu dois livros sobre 1968 – período marcado por rompimentos, por quebra de paradigmas com a cultura tradicional em quase todo o mundo. Houve mudanças no universo comportamental, dentre outras. Essa foi a época da revolução dos costumes em que aflorou a filosofia hippie, o auge do rock and roll, a explosão de diversos movimentos igualmente importantes como o movimento estudantil na França , a luta contra a ditadura militar e a revolução sexual. Os livros dele sobre o período são "1968 - O Ano que Não Terminou" e "1968 - O Que Fizemos de Nós".
Veja, então, a pequena entrevista:

O que representa este prêmio na sua carreira jornalística?
Este prêmio é um dos prêmios mais importantes que já recebi, até porque é o prêmio, o primeiro concedido, escolhido pelos colegas. Isso aí é ser reconhecido pelos seus colegas, é a melhor coisa que um profissional pode ter. E depois, pelo fato dessa defesa dos direitos humanos, isso me deixa muito honrado, realmente ter uma noite importante na minha carreira e na minha vida.

O que o seu estudo do jornalismo nos anos 60, na França, o influenciou a escrever sobre o período?
Não, estive na França em 60 e 61 e aí, realmente, fiz jornalismo. Mas já trabalhava em jornal. Em 68, voltei, mas já era profissional e as coisas já estavam acontecendo aqui em 68 . Entrou no livro, os dois temas entraram... é o Maio de 68 lá e 68 aqui, mas não foi o que me levou a escrever sobre o ano.

O que a sociedade herdou do que foi propagado pelos ideais dos anos 60?
A herança é muito rica, claro que se teve uma herança positiva e uma herança negativa. A positiva, foi todo um plano das liberdades individuais, a condição feminina avançou muito, a condição dos negros, o movimento negro, movimentos ecológicos, todos foram movimentos que nasceram e ficaram em 68, até hoje você tem resultados desses avanços no plano do comportamento.

O senhor usa como base o ano de 1968 para escrever seus livros. Eu queria que o senhor falasse sobre os 40 anos após 1968.
Mas o que você quer saber?

Gostaria de saber do senhor qual sua análise a respeito desses 40 anos após 1968.
Eu escrevi um livro sobre isso, 40 anos depois, para fazer um balanço desses 40 anos. O país mudou, o preconceito das gerações mudou, mudou muita coisa, mas é realmente um trabalho que a gente lê para ver em detalhes o que houve de mudança e continuidade.

Quais conselhos o senhor daria para os estudantes de jornalismo?
Não dou conselho, porque quem dá conselho é velho, e sou muito novo... Tô brincando... dou dicas. Se tivesse que resumir essa sugestão, conselho, como você diz, é o seguinte: humildade. Não como virtude, mas como sabedoria, porque é uma profissão em que se você deixar subir à cabeça essas bobagens, você quebra a cara, ela te derruba. No fundo, no fundo, é uma profissão em que, o furo que você dá hoje, você leva amanhã. Então, você achar: "eu fiz uma matéria exclusiva, eu sou o maior"... No dia seguinte, você leva um furo de um foca, eu acho que a humildade na profissão facilita. A arrogância, se bobear, a gente fica cheio de soberba. Então, é preciso tomar muito cuidado. E a humildade não é como virtude, é como sabedoria, é uma profissão onde não dá para você ser arrogante, senão você quebra a cara.

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