domingo, 9 de novembro de 2008

Jornalista que denunciou o assassinato do operário Manoel Fiel Filho na prisão da ditadura recebe prêmio especial ONU


O Prêmio Vladimir Herzog, que chega a sua 30º edição é motivo de orgulho aos profissionais que lutam pelos Direitos Humanos a fim de construir um mundo melhor.

O jornalismo é o coração de um país que une as diversas crenças, cores e culturas, cuja história principal é atuar como testemunha das mudanças que fizeram à história do País.

No dia 27 de outubro às 19 horas e alguma coisa, cheguei ao Tuca (Teatro da Universidade Católica), local marcado para a entrega do Prêmio Vladimir Herzog e observando o movimento do local, cujo se encontrava uma grande quantidade de alunos, jornalistas, imprensa e personalidades, me posicionei na fila de entrada no hall do teatro, até que alguns minutos depois fui surpreendida com o grito de uma senhora rechonchuda chamando por Ricardo Kotscho.

Era ele mesmo, não pude acreditar! Acompanhado de sua netinha, Ricardo chegara ao teatro naquele momento, quase junto comigo. Que presente... Ganhei o prêmio da noite!
Não! Não foi o Prêmio Vladimir Herzog, mas foi a sorte de estar presente naquele local, no momento e na hora certa.

Ricardo Kotscho é um dos grandes nomes do nosso jornalismo, começou a carreira num jornal do colégio e de lá passou pela grande mídia do País, em jornais como O Estado de S. Paulo e TVs como SBT, Record, Cultura e Rede Globo, além de ter sido Secretário de Imprensa da Presidência da República do governo Lula e ter mais de 19 obras publicadas. Com seu estilo único de escrever é capaz de transformar um simples acontecimento em uma obra de arte autêntica.
É... A tarefa de entrevistar aquele homem admirável estava ali na minha frente! Respirei fundo, saquei o gravador e a câmera da bolsa e fui me aproximando devagar, logo me apresentei e sem perder tempo comecei a entrevista.

Ricardo, o que representa este prêmio especial da ONU na sua carreira jornalística?
Primeiro que eu não esperava ganhar prêmio nesta altura do campeonato, afinal eu já fiz 60 anos e é legal porque não é um prêmio que você se inscreve, é como ganhar na loteria sem ter jogado, você é eleito por votação direta pelos colegas, foram 500 jornalistas que ganharam o prêmio Vladimir Herzog e ai votaram em 5. F iquei entre os 5! Estou muito feliz.

De todos os prêmios Vladimir Herzog, qual você considera o mais marcante?
Eu ganhei duas vezes, mas não lembro das matérias, por incrível que pareça! (risos)

Durante sua carreira já chegou a sofrer ameaças de morte? Como você reage nesses casos?
Ameça de morte, tortura, graças a Deus escapei! Apesar de eu ter sido de uma geração onde muitos sofreram com isso. Eu era amigo do Herzog, mas sempre fui muito medroso, o que foi bom, porque sempre procurava ficar longe quando havia conflito com a tropa de choque, com aqueles helicópteros do exército... Então sempre que acontecia isso, eu ia para um bar tomar cerveja e depois procurava saber o que tinha acontecido. Cheguei a receber recados de ameaça quando fiz duas reportagens, uma sobre as mordomias na época do regime militar referente aos privilégios do militares e outra onde denunciei a morte de Manoel Fiel Filho, um operário assassinado na prisão, do mesmo jeito que o Vladimir Herzog, só que eles abafaram, esconderam o corpo e eu consegui levar essa história à mídia, então os militares ficaram nervosos comigo.

Então você chegou a ser exilado?
Não, não fui exilado. Recebi alguns avisos e por isso resolvi passar um tempo na Alemanha, fiquei dois anos por lá.

Ao término das perguntas, agradeci a Ricardo Kotscho que num gesto singelo pegou algumas cópias do endereço de seu blog e nos ofereceu.
Para acessar: http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho - Balaio do Kotscho
Vale a pena conferir e participar.

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