sexta-feira, 21 de novembro de 2008

DITADURA E REDE GLOBO

Quem tem menos de 30 anos não viveu os piores anos da nossa história. Saberão apenas pelos livros ou nas rodas de familiares o que foi a Ditadura militar no Brasil. Os anos de chumbo, assim foi chamado pela imprensa, o periodo de maior censura às informações e de menor liberdade política na história desse país.
Dezoito milhões de eleitores brasileiros sofreram das restrições impostas por aqueles que assumiram o poder, ignorando e cancelando a validade da Constituição Brasileira, criando por meio de Atos Instituionais, 17 ao todo, um Estado de exceção, suspendendo a democracia.
Os anos de chumbo fazem parte do período mais repressivo da ditadura militar no Brasil, estendendo-se basicamente do fim de 1968 quando o Presidente da República General Costa e Silva promulgava o Ato Institucional número 5, o maior instrumento de arbítrio até então utilizado na história da República, cujo resultado prático foi a suspensão de liberdades individuais, intervenção no judiciário, cassação de mandatos e o fechamento do Congresso por tempo indeterminado.
Foram, provavelmente, os anos de maior progresso econômico, acompanhada da maior dívida externa da história recente do país, apesar do avanço da inflação que ocasionava o aumento da pobreza e da grande desigualdade social, além do elevado grau de repressão política.
Foi no meio desse cenário que surgiu em 26 de abril de 1965 uma emissora, que se tornaria a maior rede de televisão no Brasil e a quarta do mundo. Os Diários Associados, que faziam campanha contra a presença de capital estrangeiro na mídia brasileira, denunciaram a existência de um acordo entre Roberto Marinho e o grupo Time-Life, que detinha alguns dos maiores veículos de comunicação do mundo.
Após diferenças entre Marinho e o governador Carlos Lacerda, este mandou prender norte-americanos e cubanos que trabalhavam na TV Globo como representantes do Time-Life. A Globo foi criada um ano depois do golpe militar que mergulharia o País nas trevas por 20 anos. A família Marinho sempre ficou do lado do governo - independentemente de quem fosse o partido - era sempre situação. Um dos instrumentos que utilizou para apoiar a ditadura foi o telejornalismo. Enquanto milhares eram torturados e morriam nos porões da Ditadura, os jornais televisivos da Globo mostravam um País tranqüilo e ordeiro. As novelas mostravam um povo alegre, feliz, preocupado apenas com desilusões amorosas e dramas familiares. Os programas de auditório e as transmissões de futebol também ajudavam a criar esse clima.
Preparada para ficar ao lado do poder, a empresa mudou suas táticas à medida que mudavam as condições políticas do País. Vendo o fim da ditadura militar, devido ao crescimento da pressão popular e política pela redemocratização do país, adotou a candidatura da oposição burguesa nas eleições indiretas disputadas no Colégio Eleitoral. Sabia que esta seria uma saída segura frente ao crescimento do movimento popular, cujas maiores expressões eram o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) que se formavam no ABC paulista.
Um das grandes ferramentas da ditadura, foi os programas de documentários do Amaral Netto e o de auditório de Flávio Cavalcanti. Esse, com seus gestos agressivos e expressões faciais, quebrando discos das músicas que não agradava ou aplaudindo, empolgadíssimo, os artistas preferidos, foi conquistando os telespectadores e se tornando uma figura influente na aprovação e aceitação da ditadura. Flávio Cavalcante era a favor dos armísticos no poder para a manutenção da moral e dos bons costumes. O apresentador mais importante da extinta Manchete, mostrava imensas obras de engenharia, um país realmente em crescimento exponencial, era a época do Brasil Grande, Milagre Brasileiro ou o Milagre Econômico. Grandes obras, como a ponte Rio-Niterói e um dos exemplos de obras faraônicas.
Amaral Netto era um concorrente direto na audiência com Cavalcante. As organizações Globo investiam em Netto oferecendo horário nobre para exaltar as façanhas militares em tom de samba-canção. Façanhas como a hidrelétrica de Itaipu ou a rodovia Transamazônica. Amaral culpava os “comunas” sobre a paralização das obras no empreendimento na Amazônia.Os militares pressionavam sempre a emissora quando havia mudança na grade dos programas e principalmente no horário de Amaral Netto. O apresentador tinha conexão direta com o presidente e com os ministros militares. Eles falavam diretamente com o Roberto Marinho que voltava o programa para o horário de melhor audiência.
Em 1980, Lula é preso por João Figueiredo – seria o último presidente militar - e a partir desse momento, os empregados que ainda eram contra Luís Inácio, passam a apoiar o movimento das Diretas Já. Começam pressões em toda parte do país para eleger diretamente o presidente e parlamentares que só viriam uma década depois.
Não podemos deixar de mencionar a manobra nas eleições de 1989. Finalmente acontecia as primeiras eleições – ainda que indireta - para presidente e assim foi eleito Tancredo Neves que não assume a presidência e morre alguns dias antes da posse. Somente nas próximas eleições que seria realizado a primeira eleição direta entre Fernando Collor, que surgiu como alternativa para burguesia e Luís Inácio da Silva, representando a classe trabalhadora. A Globo, mais uma vez, vendeu a imagem de Collor como um campeão do combate à corrupção. O caçador de marajás como ficou conhecido, slogan de sua campanha.
Mesmo assim, Lula, candidato do PT e apoiado pela CUT, foi para o 2º turno das eleições. Nesse momento, a Globo entrou com tudo. Fez uma enorme campanha de terrorismo e calúnias contra o candidato popular e manobrou as edições dos debates entre os candidatos favorecendo e elegendo Collor. A partir de então, é dado início às grandes transformações na sociedade e a implantação do neoliberalismo no País. Momento de glória para a Globo e para dezenas de políticos gatunarem os cofres públicos. Insatisfeito com o pedaço da fatia, Roberto Marinho começa o projeto de tirar o presidente Collor do poder. Com denúncias de corrupção sendo transmitidas nos principais telejornais da emissora, influenciando a opinião pública, manipulou a sociedade e exibia as manifestações contra Fernando Collor. Ele caiu, mas o neoliberalismo, apoiado pela Rede Globo, se desenvolveu até esta primeira década do século XXI.

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