sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Ricardo Gebrim comemora os 5 anos do jornal Brasil de Fato

















No dia 17 de abril de 2008, completou-se 12 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás. Dezenove trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados pela Polícia Militar do Pará, mas, até hoje, apenas dois foram condenados, o coronel Mário Pantoja e o major José Maria de Oliveira. Por sua importância, a data foi escolhida para a comemoração do 5º aniversário do Jornal Brasil de Fato, que durante esses 5 anos de existência tem expressado as articulações de movimentos sociais, reafirmando a cada edição publicada seu perfil plural e de esquerda.
Na comemoração realizada no teatro Tuca, na Pontifícia Universidade Católica (PUC), São Paulo, estavam presentes cerca de 700 pessoas, entre representantes de movimentos sociais, organizações não governamentais, políticos, estudantes e militantes. O evento teve falas, apresentações musicais e homenagens.
Ricardo Gebrim, 49 anos, integrante da coordenação nacional do Movimento Consulta Popular, Presidente do Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo e membro do conselho editorial do jornal Brasil de Fato, nos contou um pouco sobre a sua história e, consequentemente, a do jornal.
Gebrim é militante desde os 18 anos , tendo começado no movimento estudantil, formou-se em Direito, porém a paixão pela comunicação e comprometimento na luta contra a ditadura da informação, do pensamento único e da hegemonia capitalista das grandes mídias, foram motivadores para que se dedicasse com muito empenho à expansão e sobrevivência do Jornal Brasil de Fato desde sua criação em 2003: "São cinco anos de existência e resistência do Brasil de Fato e temos muitos motivos para alegrar-nos e continuar a lutar pela sobrevivência de um jornal que mostra a realidade do país sem máscaras. O TUCA foi escolhido para esta comemoração justamente por ter sido um espaço de resistência aberto durante a ditadura militar á redemocratização do país, mesmo após muitos ataques da extrema direita."
Durante as décadas de 60, 70 e 80, período da ditadura militar, os jornais alternativos cumpriram um papel fundamental como instrumento de informação num tempo que só o que interessava aos governantes no poder era dito e considerado verdadeiro: "Quem saiu do período da ditadura militar sabe o valor que tiveram os jornais alternativos. Mesmo com dificuldades eles cumpriam o papel de atacar os poderosos e mostrar a realidade que o país estava vivendo , apesar de muitas pessoas fecharem os olhos para ela. Vivíamos uma ditadura militar, agora vivemos a ditadura da informação, do pensamento único, do domínio das grandes mídias."
São cinco anos de muitas dificuldades, obstáculos e desafios enfrentados para resistir à ofensiva capitalista. No Brasil é muito difícil fazer uma imprensa livre e comprometida com a luta das classes menos favorecidas , até porque o monópolio midiático prejudica a ascensão de jornais como o Brasil de Fato: "O maior desafio do jornal é o financeiro, porque os custos com papel e impressão são altíssimos; só a venda em bancas e assinaturas não são suficientes para manter um jornal, e como não há veiculação de propagandas , responsáveis por sustentar a grande mídia , a parte financeira fica prejudicada sem dúvida . O Brasil de fato não tem tendência a usar publicidade para promover o jornal, já que as poucas propagandas veiculadas são de órgãos públicos e de incentivo á cultura."
A existência do jornal tem grande relevância porque mesmo num país em que se lê pouco, ele serve como instrumento de organização e informação diversificada da mídia corporativa que absorvemos todos os dias até mesmo sem perceber . O Brasil de Fato é um jornal pequeno, mas com muita força e representatividade, mesmo que esta não seja assumida pela oposição: "Desde o início todos estavam cientes do desafio financeiro que iríamos enfrentar, e este foi agravado pelo monopólio de distribuição que prejudica a expansão dos jornais alternativos. Este monopólio assemelha-se ao praticado nas concessões de televisão, e hoje o jornal ainda existe praticamente pelo trabalho voluntário dos jornalistas, militantes e colaboradores em geral. O 3º aniversário do jornal foi um momento em que realmente estava se tornando insustentável mantê-lo. Surgiram dúvidas quanto ao futuro... "
O jornal possui atualmente uma tiragem média nacional de 15.000 exemplares, incluindo as edições especiais. São Paulo é o estado de maior tiragem, e Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pará possuem excelente penetração: "Quando começamos tínhamos a expectativa de maior abrangência, erámos ingênuos, sem noção do poder da grande mídia. Os leitores do jornal Brasil de Fato o fazem por amor. Em estados como o Pará, por exemplo, o jornal leva em torno de uma semana para chegar nas mãos do leitor, as notícias já estão desatualizadas, mas mesmo assim o estado tem boa penetração."
Acompanhando a evolução tecnológica, para alcance de um maior público e divulgação do jornal entre o público jovem , foi criada a Agência Brasil de Fato na internet que possui aproximadamente 13 mil acessos diários: "A mídia on-line ao contrário do que parece, auxilia na divulgação do jornal, atingindo principalmente o público jovem. Os leitores de faixa etária mais avançada ainda preferem o jornal impresso, sentem a necessidade de “tocar” a notícia."
Todos colaboradores desejam vida longa ao jornal, que ele continue por mais 10, 15, 20 anos cada vez mais forte e presente na luta contra a grande mídia que doutrina e hipnotiza o povo brasileiro. Gebrim explica o futuro esperado por ele ao Brasil de Fato:"Minha satisfação e de todos os colaboradores do jornal é ver o brilho nos olhos dos novos jornalistas, com a vontade e ansiedade em mostrar seu trabalho, mostrar que realmente se importam com a sua pátria e que não querem, nem permitirão serem influenciados pela mídia massiva. Defino o Brasil de Fato como retrato da realidade brasileira e ficarei imensamente feliz quando a manchete na primeira página for “A Revolução do Povo Brasileiro”.

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