sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Revelando São Paulo






Esses dias me peguei pensando no futuro. Mais dois anos para me formar, para ser um jornalista. Vira e mexe vem uma pergunta, estou preparado para ser jornalista? Descobri que o que quero é voltar no tempo...Fiquei olhando pela janela da sala a minha vizinhança, no bairro Santa Izabel, e lembrando dos momentos que não tinham hora pra dormir, que festas duravam a noite toda, que tinha férias garantidas no meio e final do ano, que feriados no meio da semana sempre emendavam com os outros dias até o final de semana. Isso para mim já não existe há muito tempo - pelo menos uns 12 anos - desde que entrei no meio radiofônico.Sabe? Quero voltar a ser criança. Essa vida de gente grande dá trabalho demais. Fiquei lembrando dos bons tempos aqui no bairro onde moro. Existia época para cada diversão. É isso mesmo! Existia época dos carrinhos de rolemã - era um Deus nos acuda nos finais de feiras para pegar os melhores caixotes, as melhores madeiras e fazer o carrinho mais rápido. Alguns eram tão sofisticados que já eram adaptados com freios de mão.
Logo depois era época dos pipas. Ah! Como era bom juntar 10, 15 amigos tentando colocar no ar a melhor pipa, claro que não podia faltar o cerol - vidros muídos com cola de madeira. Não tinhamos noção de como era perigoso para os motoqueiros, mas para nós, valia tudo para ser o "barão do ar". Não da para esquecer da época de bolinhas de gude. Eramos os senhores de si e do mundo que o cercavam, lá iam nós pela rua com suas riquezas no bolso. Asas nos pés,enlevo de quem tem toda a vida pela frente. E tinhamos. Eu podia ficar a tarde todas jogando e era incrível como aquelas bolas de gude ganhavam um status de coisa mítica, de coisa feita de sonho e devaneio. Pareciamos reis com aquela melodia feita de vozes infantis que gritavam a todo momento,seja quando ganhavam e principalmente quando perdiam alguma partida.
As meninas nuncam entendiam bem como funcionava, mas aquele que possuía apenas uma gude ao sair de casa poderia ir “matando” inimigos e voltar com o bolso cheio das benditas bolinhas.Aritmética das aritméticas!Mágica das mágicas!Com um pouco de sorte e um outro tanto de talento, enchiamos os bolsos esferas azuis,verdes,amarelas,multicores.E eu sentia um orgulho bobo embevecida com tanta felicidade. Já ia esquecendo de falar da época dos peões. Cortavamos a "cabeça", aquela pontinha que muitos usavam para enrolar a fieira. Mas eu não! Preferia sem aquela coisa que atrapalhava e tirar a "estetica" do giro. Pintados de diversas cores que se confundiam ao desenrolar da sua mão. E como a bolinha de gude, os jogos de peões também valia a partida. Colocavamos o peão apostado num circulo e cada jogador tentava acertar a peça que interessava.
As vezes,em dias como de hoje,bate uma saudade tremenda daquela época. Tempo em que eles eram meus.
Tenho saudades daquelas alturas em que tudo era fácil. Em que me era permitido sonhar, e mais que isso, me era permitido realizar todos os meus sonhos. Tenho saudades da minha imaginação sem barreiras e da minha ingenuidade que me deixava sonhar com tamanha imaginação.
Tenho saudades de me extasiar com as coisas banais da vida, e daqueles pormenorezinhos que vendo bem agora, é que lhe davam um toque especial.
Tenho saudades dos tempos em que a minha felicidade dependia de coisas tão fáceis como um simples pedaço de pudim de leite. Do diplic com pozinho - que falavam que dava cancêr - e que deixava a lingua colorida, do desenho Caverna do Dragão - até hoje não sei se os meninos sairam daquele lugar. Saudades daqueles amigos que tantos nos viam como heróis, como nos punham amuados o dia todo. Daquelas mentirinhas demasiado teatrais que não enganavam ninguém, excepto a nós próprios.
Tenho saudades do tempo em que o mundo girava a nossa volta. E daqueles risos altos, quase histéricos, que não se importavam com os decibéis. Tenho saudade de ser criança novamente e quem sabe poder contribuir para um futuro melhor do que esperam as de hoje.

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