sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Fotografia de Hermínio Nunes denuncia a desumanização dos presídios

O fotógrafo Hermínio Nunes (terceiro na seqüência) é abraçado ao receber o prêmio



Em uma tarde cinzenta de 27 de outubro de 2008, tive que enfrentar a ameaça de chuva forte para ir a um lugar bem longe de minha casa: o teatro TUCA, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – USP, onde assistiria à cerimônia do 30º. Prêmio Vladimir Herzog. Mais do que isso, precisava também entrevistar um jornalista ou membro da Comissão de Direitos Humanos.

Na sexta-feira anterior, pesquisei sobre três possíveis entrevistados. Deveria conversar com apenas um, mas provavelmente perderia a entrevista se fizesse pesquisa e pauta somente de uma pessoa, que poderia vir a faltar. No início da cerimônia, minha preocupação aumentou: o chargista Raimundo Rucke Santos Souza, que recebeu menção honrosa na categoria Artes, não estava presente. Minutos depois, o fotógrafo Hermínio Nunes recebia seu prêmio também por menção honrosa. Memorizei a fisionomia (óculos, camisa verde por baixo do terno) e a cadeira em que se sentava no palco.

Entrei em desespero quando os jornalistas premiados começaram a sair do auditório, enquanto os apresentadores do evento anunciavam uma continuidade – o Prêmio Especial dos 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos. Gostaria de ter assistido por inteiro essa segunda parte, mas deixei o auditório, correndo atrás de Hermínio para entrevistá-lo. Por sorte, o fotógrafo se dirigia ao banheiro. Esperei, então, que ele saísse para abordá-lo e fazer a entrevista.

Hermínio foi o primeiro catarinense a receber o prêmio. O fotógrafo ficou assustado quando me aproximei, mas tentou ficar à vontade. Apesar da timidez, ele demonstra ser uma pessoa sensível e batalhadora, condizendo com o perfil do povo brasileiro.

O senhor ficou surpreso com esta menção honrosa? Como foi o trabalho de reportagem?
Fiquei surpreso, sim, a gente acredita no trabalho da gente, mas nunca espera uma menção honrosa tão importante, ainda mais num prêmio Vladimir Herzog. Havia acontecido uma situação de assassinato na penitenciária de São Pedro de Alcântara, grande Florianópolis, e logo após eles fizeram uma limpeza na penitenciária que se chamou Operação Pente Fino. E depois eu tive acesso, durante essa limpeza, e fiz essa foto.

Por que uma região tão desenvolvida como Santa Catarina ainda apresenta problemas de desrespeito aos direitos humanos nos presídios?
É uma dificuldade não só nos presídios e não só em Santa Catarina. Em todos os presídios do Brasil, a gente vai encontrar bastante desrespeito aos direitos humanos, não só nas penitenciárias como também em delegacias e outros lugares.

Em que outros jornais, revistas, o senhor atuou?
Eu já trabalhei muitos anos no jornal O Estado, de Santa Catarina, que hoje é do grupo RBS, atualmente Diário Catarinense, e fiz alguns thrillers para o Jornal do Brasil e alguns jornais de fora.

O que falta à população para que valorize mais os direitos humanos?
Eu acho que, olhar com outros olhos, de carinho e de amor, é isso que a gente precisa, dar um pouquinho da gente pra também contribuir.

Quais os maiores desafios de um fotógrafo nesta profissão?
A gente tem que se superar em tudo, tentar sempre mostrar aquilo que realmente é, procurar sempre, mostrando mesmo, de uma forma limpa, bonita, tudo aquilo que você consegue retransmitir e passar pro outro.


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