terça-feira, 7 de outubro de 2008

entrevista perfil brasil de fato

Nosso desafio era entrevistar um jornalista do BRASIL DE FATO, por ocasião da festa de aniversário dos cinco anos de sua criação, em 17 de abril deste ano. Eu acredito que, assim como a maioria dos meus colegas, eu fiquei cheia de medos e inseguranças. Apesar das recomendações da professora de fazer o uso das ferramentas técnicas, como preparar de antemão uma pauta, o que é de praxe para o entrevistador. Confesso que não consegui elaborá-la.

Levei meu MP-4 para gravar a entrevista da minha “cobaia”, mas na hora “H”não funcionou. Tentei usar meu bloco de anotações, mas como estava muito nervosa, fiz apenas alguns rabiscos ininteligíveis. Porém, tive um pouco de sorte, porque acabei encontrando um colega da sala, o Marcos Leandro, que gentilmente, me emprestou o seu MP3. Só assim tive a chance de fazer os registros desta entrevista.

De início, eu tentei uma abordagem com dois outros jornalistas do Brasil de Fato, mas a entrevista não fluiu por culpa do meu despreparo. Mas, quase no final do evento, tive a sorte de encontrar Jorge Pereira Filho, que foi bastante atencioso comigo. Um jovem jornalista que, visivelmente, denota nutrir a esperança por dias melhores, por isso mesmo, acredita no poder das mudanças sociais. O compromisso, de levar a informação a uma população menos favorecida, levou-o a trabalhar no Jornal, que tem uma linha independente, é engajado com as causas sociais e tem postura crítica perante os atos do governo e da elite brasileira. Até mesmo seu perfil físico – usa barba e óculos - condiz com os jovens de visão crítica. Ele faz o gênero intelectual, com uma perfeita fluência verbal e tem posicionamentos lúcidos com relação ao rumos do Capitalismo e Socialismo no mundo contemporâneo. Jorge Pereira Filho é jornalista, representante do Conselho Editorial, Político, e editor da página de Internet da Agência Brasil de Fato.


Primeiramente, você trabalhou na Gazeta Mercantil. Você se decidiu a trabalhar no Jornal Brasil de Fato por se identificar com a linha editorial?
Quando fui fazer jornalismo, já pensava no papel que poderia desempenhar na sociedade, pois todo trabalho tem uma repercussão social. O papel do jornal é tentar reduzir a alienação do trabalho à medida que controlamos o que fazemos e das conseqüências da produção para a sociedade. Ao trabalhar na grande mídia, você sente na pele a frustração de produzir algo que não lhe pertence, que está colocado ali intelectualmente e não manualmente. É como um operário que fabrica um carro que não é dele e ele não pode alterá-lo, pois nele há amarras correspondentes a interesses que não são seus, posturas ideológicas, éticas e morais. Essa inquietação levou-me a buscar essa alternativa, um espaço onde pudesse realmente atuar, o Brasil de Fato.

Você trabalha no site do jornal?
Trabalho mais no site, mas também edito a seção de América Latina, no jornal.

Temos um governo que fugiu de seu discurso político após a posse. Como andam os ideais da esquerda após a queda do socialismo na ex-URSS? Não há um descrédito geral na bandeira de luta do socialismo?
Duas informações importantes. Sobre o governo Lula, acho que o sentimento de frustração é grande, de todos aqueles que apostavam em uma grande mudança durante o mandato. Ele decepcionou o "Brasil de Fato", todos os militantes de esquerda e aqueles que defendem a transformação social por meio de uma melhor distribuição de renda, porque, se o país está crescendo, a economia vive com poucas turbulências, o cenário de estabilidade que todos dizem é a estabilidade da miséria, das desigualdades sociais, na qual 20 pessoas por fim-de-semana morrem na Grande São Paulo, às vezes só na Zona Leste. Eu nasci em Suzano e sei como é morar naquela região. Há vários bairros e sabemos da violência que tem lá. Ela não é produto apenas de um povo que desrespeita as leis, ela não é uma questão de juízos morais ou de valor. Num contexto social, é um absurdo a que se submete a vida humana, são pessoas que não têm direito à dignidade, à saúde e à educação.
Não é proposta da esquerda que está em descrédito. O Leste Europeu trouxe frustração para todo o mundo que acredita que é possível mudar. Mas creio mais na humanidade, num modo de pensar e viver mais igualitário, do que aceitar o capitalismo que dizima a população pobre e determina quem vai ter o direito de ser feliz, quem vai poder estudar, ter uma vida mais humana ou ser como cachorro, que vai condenar uma pessoa a trabalhar 15 horas na cana-de-açúcar, e ter que tomar soro na veia para continuar produzindo etanol, álcool combustível para os ricos europeus e americanos andarem nos seus carros.
Defendemos outro modelo de desenvolvimento, isso vai além de um debate sobre a União Soviética, de experiências do socialismo que se passaram. Temos que fazer a crítica e não nos prender a isso. A vida humana é bem mais que 90 anos de socialismo, porque a primeira experiência socialista foi em 1917 na Revolução Russa. Quantos anos de experiência tem o capitalismo? E ele nunca solucionou os problemas da humanidade.

O Jornal, pelo visto, tem uma filosofia bem humanista, por isso mesmo, as questões discutidas por ele visam promover um maior bem estar para o povo brasileiro? Explique.
Pautamo-nos pela vida da maioria. Se pegarmos um caderno de economia, você verá que grande parte das notícias está relacionada ao mercado financeiro. Você já investiu na Bolsa? Fulano está desempregado, beltrano tem emprego sem carteira assinada, sicrano não tem acesso à saúde. Nosso foco é a necessidade da maioria, e não do capital, dos empresários, mas da vida popular, das pessoas comuns, que enfrentam dificuldades e lutam pela sobrevivência.
Nós reunimos em torno do jornal um grupo plural que compartilha de alguns valores e esses valores podem ser reunidos em todas as frases que já citei, como "os problemas não estão solucionados". Queremos ampliar o debate sobre os problemas na sociedade.

Por que você escolheu trabalhar na parte de editoria?
Na verdade, faço matérias também.

E quais matérias surtiram mais efeito para o jornal?
Várias. Não gostaria de eleger uma ou outra, pois a questão não é parodiar o Lula, fazer gol de bicicleta, e sim marcar gol, é o que o Brasil de Fato tenta fazer, manter uma regularidade de qualidade. Isso cria um substrato no público leitor, na página da Internet, para ampliar o nível do debate ideológico da sociedade.

Nenhum comentário: