quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ditadura: Memórias dos Trabalhadores de São Miguel Paulista

Em São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo, a memória ainda dói

No tempo do "Brasil, Ame-o ou Deixei", quem não tinha carteira de trabalho ia para o camburão, operário comunista acabava morto

Francisco Adenir dos Santos, 53 anos, natural do Paraná, chegou em São Miguel Paulista em 1967

“Para ir a um bar precisava ter a carteira profissional assinada e o holerite do mês. Se não tivesse os militares botavam num camburão, dava voltas com a pessoa e a deixava num lugar distante de onde a encontraram.Os militares batiam na cara de qualquer um, mesmo sem motivo aparente.”

“Havia muitas vagas de emprego. Eu trabalhava na Metal Arte, mesma empresa que o operário Manuel Fiel Filho trabalhou. Manuel foi preso, toturado e assassinado porque era comunista e recebia o jornal Voz Operária. Ele foi morto dia 17 de janeiro de 1976. Os responsáveis disseram que ele tinha se suicidado com suas próprias meias, mas colegas de trabalho afirmam que ele estava de chinelo."

"O DOI-CODI machucava e calava. Colavam adesivos nos carros com o seguinte dizer: Brasil, ame-o ou deixe-o. Ou: Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil.” Era a publicidade do regime militar."

Não lia jornal e assistia pouco a TV, porque trabalhava muito


Geralda Clementino dos Santos, 48 anos, natural da Paraíba, chegou em São Miguel Paulista em 1980


" Eu não sabia o que era a ditadura, não senti o impacto nem testemunhei nenhuma cena. Por conta do trabalho, não lia jornal e assistia pouco a TV, porque trabalhava muito para sustentar a família".

Algumas pessoas que eles pegavam nunca mais eram vistas


Socorro Almeida Santos, 46 anos, natural de Pernambuco, chegou em São Miguel Paulista em 1983

"Eu me recordo que a família comentava comigo. Diziam que os militares faziam motins e que algumas pessoas que eles pegavam nunca mais eram vistas".

Eu tinha que andar com holerite e carteira profissional


Cintra Paulo Maia, 74 anos, natural do Ceará, chegou em São Miguel em 1967.

"Lembro que tinha que andar com holerite e carteira profissional. Não sei quanto tempo isso durou."

Não sei o que foi a ditadura


Maria Rosa de Santana, 67 anos, natural da Bahia, chegou em São Miguel Paulista em 1963

" Não sei o que foi a ditadura".

Qualquer um que falasse qualquer coisa ia preso

Antônio Joaquim de Santana, 72 anos, natural da Bahia, chegou em São Miguel Paulista em 1953

"A ditadura era o militarismo. Vi um rapaz sendo preso. Qualquer um que falasse qualquer coisa ia preso."

Militares usavam cavalos


Margarida Maria de Moraes Cabral, 60 anos, nasceu e ainda mora em São Miguel Paulista


"Lembro que a minha mãe foi até a Praça da Sé e lá havia uma manifestação, militares usavam cavalos... não lembra o ano".

Foi preso porque estava sem camisa


Vanda Borges de Moraes, 59 anos, nasceu e mora em São Miguel Paulista

"O meu irmão foi para um bar jogar e como estava sem camisa ele foi preso. Para soltarem ele, meus pais levaram os documentos. Por sorte o encontraram na delegacia antes de levá-lo para outro lugar".

Eu me casei no ano das Diretas Já

Maria do Socorro Clementino de Souza, 43 anos, natural da Paraíba, chegou em São Miguel em 1980
" A ditadura é o poder militar. Me lembro do movimento Diretas Já, porque foi no ano em que eu me casei, em 1984."

Não testemunhei nada

Manuel Enéias de Souza, 52 anos, natural da Paraíba, chegou em São Miguel Paulista em 1975
"Não sei o que foi a ditadura e não testemunhei nada".

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