
O regime militar foi um período marcante na história do país, por toda obscuridade que o cercou, pela repressão e pelo desrespeito aos direitos humanos promovido por aqueles que estiveram a frente do governo da época. O General Camilo Castello Branco, a partir de abril de 1964, que havia prometido uma política democrática, assumiu uma postura totalmente autoritária para impor pela violência o novo projeto de Brasil da burguesia industrial e financeira conservadora aliada à burguesia internacional.
Casos de repressão e tortura foram freqüentes durante a ditadura. A população brasileira sofreu com uma política que não garantia nenhum direito de cidadania.
O período ditatorial afetou vários setores da sociedade, como o campo político, o cultural, o educacional e, inclusive, o campo científico, que exemplifica bem o que a ditadura foi capaz de fazer. O objetivo era reprimir um projeto de Brasil voltado para o desenvolvimento do país livre e soberano.
Como é o caso de alguns professores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo(FMUSP), que durante o regime foram presos, demitidos ou aposentados compulsoriamente, impedidos de exercerem suas funções por suspeitas de envolvimento com movimentos que se contrapunham ao governo militar.

Para o doutor, passar por esse processo foi “obviamente desgostoso para não utilizar palavras mais forte”. “O assassinato de Vladimir Herzog e outros me perturbaram bastante”, relata. O professor conta que juntamente com alguns compatriotas nos Estados Unidos, ele tentou denunciar os crimes cometidos na ditadura, porém sem sucesso.
Rabinovitch voltou ao Brasil somente em 1980, com a anistia. Ele conta que recuperou seu cargo por uma hora e foi aposentado pela USP. O professor dirige, atualmente, um laboratório na Escola Paulista de Medicina (EPM), departamento de Micro, Imuno e Parasitologia.

Antes da demissão, Camargo e seus colegas se associaram a organizações de intelectuais progressistas dos mais variados tipos sem qualquer vinculação partidária. “Alguns, eu inclusive, estavam próximos do Partido Comunista, mas apenas um ou outro era filiado ao Partido. Tornamo-nos contra o regime militar depois que ele foi instalado, mas até então éramos puramente legalistas e continuamos assim”, relata.
Submetido a um processo junto a Justiça Militar por atividades subversivas, Camargo foi absolvido, mas dois de seus companheiros foram condenados pela Justiça Militar, presos no Navio Raul Soares, e depois libertados.Doutor Erney Plessmann de Camargo voltou ao Brasil a convite da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Porém, ao chegar no país, não tomou posse como docente por causa do Ato Institucional nº5. Ele trabalhou como assessor na Editora Abril, que acolheu muitos intelectuais perseguidos, e trabalhou também em um Laboratório de Análises e na Escola Paulista de Medicina, como professor de Parasitologia.
Em 1985, Camargo resolveu prestar concurso para professor titular na USP, onde foi aprovado e ficou até se aposentar, em 2005. Atualmente, ele é professor Emérito do Instituto de Ciências Biomédicas e também da Faculdade de Medicina, de onde foi demitido em 1964. O médico se dedicou desde o início de sua carreira ao estudo do Trypanosoma cruzi e, até hoje, suas obras literárias são referência obrigatória sobre a doença de Chagas.
Para o doutor Erney Plessmann de Camargo, foi positivo ter participado desta mudança de comportamento. “Confesso que foi um momento histórico de muita curiosidade e questionamento cultural. Foi interessante observar a transformação cotidiana e súbita de um país tradicionalmente conservador”, opina.
A ciência foi vítima do regime militar, tanto quanto a cultura, a educação e a participação política, pois era um dos instrumentos de conquista da soberania brasileira. Ser culto, instruído, produtor de sua própria ciência e tecnologia é o mesmo que ser livre. A ditadura rompeu o projeto do Brasil livre e soberano sonhado nos anos 1950 e 1960 para impor pela violência o projeto de dominação imperialista.
Hoje, as pesquisas realizadas por cientistas brasileiros trazem uma esperança de um país que caminhe com as suas próprias pernas, se desenvolva em prol de toda a sociedade. A ciência a favor da humanidade.
Colaboradores
Ana Paula Oliveira Gomes
Michelle Amaral
Silvia Gonçalves
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