quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O Grande Prêmio

ENTREVISTA DE EDUARDO SUPLICY NO PRÊMIO WLADMIR HERZOG

Importância da manutenção da democracia, premiação para os trabalhos jornalísticos que mais se destacaram em defender os direitos humanos, destaque à família Erzogue, em especial à Wladmir Erzogue, morto pela ditadura. Estes foram os ingredientes do prêmio Wladmir Erzogue de direitos humanos 2008, e dentre os ícones presentes na premiação, pude conversar com o senador Eduardo Suplicy, que, de forma gentil e simpática, atendeu a equipe da Cruzeiro do Sul para um bate-papo sobre a importância do jornalismo e de eventos como este para a manutenção de nossa democracia.

Eduardo Suplicy mencionou que o prêmio Wladmir Erzogue é de extrema importância para o incentivo a novos profissionais do jornalismo. Que as premiações agregam valor ao trabalho dos estudantes, pois percebem a importância efetiva da liberdade de expressão e de suas matérias como serviço de utilidade pública.

Sobre a importância de prêmios como o Wladmir Ezogue de direitos humanos para a manutenção de nossa memória, o senador afirmou que relembrarmos um período onde a liberdade de expressão nos foi retirada e tantas violências foram praticadas é essencial para não deixarmos este tipo de Estado voltar à tona, para mantermos e valorizarmos nossa democracia.
Ao final de nossa conversa, Suplicy destacou a importância do jornalismo em nosso país, denunciando, promovendo a democracia, dando voz ao povo. Disse que vê o jornalismo brasileiro como um dos melhores do mundo. E com um simpático sorriso e firme aperto de mão, Eduardo Suplicy se despediu de mim desejando boa sorte aos alunos de jornal.


POSTADO POR RODRIGO LEITE

domingo, 7 de dezembro de 2008

Viola que chora...

A música caipira, com a “cara” do Brasil, encerra em si sentimentos tristes e alegres, buscando expressões do mais simples e ingênuo até a malicia e irreverência do homem do campo que, com respeito busca suas origens e explode trazendo o dia-a-dia. Em momentos suas histórias cantadas nos fazem lembrar do teatro trágico grego ou ainda shakesperiano, onde desencontros amorosos, por exemplo, terminam em tragédia.
A viola tocada com emoção, muitas vezes sem técnica ou tecnologia, é o canto emocionado do homem da terra que dela tira seu sustento e sua força, sua nostalgia, inquietude e expressões que revelam a imensidão de sua alma.
É no ponteado que se refletem as batidas de seu coração e registram sua espontaneidade de alma pura e simples de homem, que usa seus sentimentos como bússola para orientar seus hábitos, costumes e colheitas.
Os versos cadenciados em oito silabas, rimando linhas pares, fizeram clássicos da música caipira e chegaram aqui nas primeiras caravelas, passando pela mestiçagem dos indígenas e africanos, ajudando a criar formas peculiares de cantos e danças, como o catira, o qual juntou-se o pagode, ritmo mais recente criado pelo saudoso Tião Carreiro, e a moda de viola - fábula novelesca de uma literatura musicada que traz histórias de irmãos, amigos, amantes, crenças e descrenças e, especialmente, amores/desamores; venturas e desventuras de seres buscando serem felizes que, valorizam cada objeto, animal, cultura...
A moda caipira pode ser considerada “branca”, afinal mistura pensamentos, cultura e afetos de costumes e sentimentos do sertão.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Entrevista Ivo Herzog durante entrega do prêmio Vladimir Herzog

Foto de Wagner Luis Solà. Ivo Herzog durante entrega do prêmio Vladimir Herzog


1) Ivo qual a importância deste prêmio para a memória do Vlado?

É sempre relembrar o trabalho que ele fez, a preocupação que ele tinha, a questão com a ética, questão com a preocupação com as outras pessoas com a dignidade, direito a liberdade de expressão das pessoas.

2) 33 anos depois do assassinato do Vladimir você acha que essa nova geração de jornalistas que se formam nas universidades, eles compreendem aquilo que aconteceu naquela época, aquilo que seu pai viveu?

Eu acho que eles compreendem só, que acho que tem um sistema de massificação de mídia e que às vezes força uma pauta editorial que não é naquela direção, foi um ponto que tentei colocar hoje, muito jornalismo comercial que vai muito pouco fundo nas questões que são tocadas e ficam só preocupado com o sensacionalismo, em mostrar tragédias em criar um Big Brother jornalístico mas do que fazer uma matéria com responsabilidade trabalho investigativo.

3) Muitos paises da América do Sul já puniram ou estão punindo os ditadores e torturadores de seu regime militar, como é que você vê o Brasil que até hoje parece que faz vista grossa para tudo isso ?

A gente não gosta de saber que tem pessoas que foram criminosos e ainda estão ai vivendo em cima da máquina do Estado, usando os impostos que agente pagou. Eu não acho que isso seja uma questão prioritária eu nunca me preocupei. Eu prefiro olhar pra frente do que olhar pra traz.

4) Foi aceita uma ação contra o Cel. Carlos Alberto Ustra da família teles, ele que foi o comandante do DOI-CODI, a família Herzog já deve ter entrado em várias ocasiões contra o Estado??

Tem uma ação sendo movida pela Procuradoria Geral da República, vai demorar uns 10, 15, 20 anos pra ser julgada, que é mais uma questão de ser uma referência para outras ações, do que eu falei uma prioridade, a grande ação que a família moveu foi promulgada a sentença a mais de 20 anos atrás que era uma questão de mostrar que a União foi responsável pela morte de meu pai. Não era nada indenizatório, nada disso, era só uma questão de responsabilidade e esse processo já se concluiu há bastante tempo.

5) Estou aqui com o neto do Vladimir Herzog, filho do Ivo Herzog, qual o seu nome?

Lucas.

6) Lucas como você vê toda essa homenagem feita para seu avô com os 30 anos do prêmio Vladimir Herzog?

Eu acho muito legal sempre venho. Gosto de entregar os prêmios tem o negócio de respeito da família, eu acho legal.




Postado por Antônia Cristína Romano com login de Wagner Luis Solà.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Retrato da realidade pelo fotógrafo Luiz Gonzaga Alves Vasconcelos

No dia 27 de outubro aconteceu a 30° edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Entre várias categorias jornalísticas, estava a da fotografia, cujo vencedor foi Luiz Gonzaga Alves de Vasconcelos.

Vasconcelos é fotojornalista e cobre a região da Amazônia há mais de 35 anos pelo jornal “A Crítica” de Manaus. A imagem que lhe rendeu o prêmio foi “Índio perde guerra” que mostra uma mãe com seu bebê no colo resistindo à tropa de choque.
Dos 35 anos de trabalho, 15 foram na área policial. Luiz já enfrentou diversas dificuldades por causa de sua profissão, a maioria delas resultado de censura, mas mesmo assim, nunca perdeu o gosto pelo trabalho.

Qualquer um que visse sua (assumida) falta de jeito diante de uma entrevista não imaginaria o tamanho de sua coragem, mas suas fotos e histórias falam por si mesmas.







Que influências um prêmio como este traz para sua carreira?
Olha, pra mim foi tudo, sabe? Eu nem esperava chegar aqui pra ser homenageado. Então, pra mim, é uma alegria muito grande, uma satisfação imensa estar aqui com pessoas que estão acostumadas a receber vários prêmios. Tenho que agradecer a Deus por ter chegado a pelo menos um prêmio e por estar aqui, pois sei que chegar aqui não é muito fácil, não.
Estou há 34 anos trabalhando no jornalismo e já estou até pensando em me aposentar, fazer como jogador de futebol, aproveitar enquanto estou no auge.

Que tipos de desrespeito aos direitos humanos você procura retratar em seu trabalho?

No caso desta fotografia, é a maneira como a polícia trata as pessoas que deveriam ser tratadas de outra maneira. Uma semana antes daquela foto eles tinham retirado o pessoal que estava numa invasão, havia mais de 20 etnias de índios ali. Eles maltrataram as pessoas e como não sei se houve a presença da imprensa nesse dia, ficou por isso mesmo. No dia daquela foto eles usaram a força, mesmo sabendo que a imprensa estava ali.

Como é, ainda hoje, trabalhar em meio à tentativa de censura na região de Manaus?
Eu acho que, em nossa região, cada dia que passa está mais difícil, porque até com a própria imprensa eles maltratam as pessoas, no momento da fotografia tentam tomar a máquina, tomar o filme ou memory stick, as fitas das câmeras. Eles não respeitam a imprensa, não.

A Revelação da Memória nas mãos de Otávio Bispo de Sousa

A 12ª edição do Revelando São Paulo em 2008 no Parque da Água Branca foi marcada com a presença de diversos artistas da cultura tradicional paulista.

As exposições duraram mais de uma semana e atraiu muitas crianças, jovens, idosos e inclusive, estudantes. Foi uma oportunidade de conhecer a cultura de cada cidade. Os sotaques, culinária, artesanato, pintura e outros.

No dia 19 de setembro o escultor Otávio Bispo de Sousa, 53 anos, de Salesópolis, falou um pouco sobre a sua experiência com esculturas de animais.

O escultor nunca teve a oportunidade de ir à escola. Nasceu e cresceu na Zona Rural e viu o primeiro carro aos 16 anos. Trabalhou por vários anos como lenhador. Suas primeiras esculturas não obteve muito sucesso, porém, entre tentativas e erros, a prática atingiu a perfeição. Hoje, suas esculturas são uma grande atração na Alemanha, México, Austrália e em muitos outros lugares.

Otávio se sente satisfeito em ser reconhecido até mesmo pelas emissoras de tv comercial, mas lamenta a falta de um retorno financeiro. Ele não deixa de produzir a sua arte simplesmente porque faz o que gosta. A ciatividade e dedicação é o que justifica seu talento.

Como Otávio, há outros artistas revelados no Festival de Cultura Tradicional. O Revelando São Paulo revela não só a cultura, mas também a memória dos mais velhos que ainda tem muito o que ensinar aos mais jovens.

"Lutar sempre, vencer às vezes, desistir jamais"

Entrevista com Tatiana Merlino

Em 27 de outubro, em uma cerimônia histórica, a entrega do 30º Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos, no TUCA, teatro da Pontifica Universidade Católica de São Paulo, Ivan Seixas, do Fórum dos ex-presos e perseguidos políticos do Estado de São Paulo, fez homenagem à família Teles. Torturados durante a ditadura militar, os Teles ganharam uma ação no Tribunal de Justiça de São Paulo, em que o Estado é obrigado a responsabilizar o comandante do DOI CODI de São Paulo, coronel reformado do Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra, pela série de torturas sofridas por membros da família. O TJ de São Paulo decidiu, no início de outubro, que o pedido dos Teles é procedente.

Também foi lembrado o caso do jornalista Luiz Eduardo Merlino, torturado e morto por agentes da repressão nas dependências do DOI-CODI em 1971, quando tinha apenas 23 anos. No caso Merlino, a ação na Justiça para responsabilizar o coronel pela tortura e morte do jornalista foi extinta sem que fosse julgado o mérito da questão.

A sobrinha de Luiz Eduardo Merlino, a jornalista Tatiana Merlino, também esteve presente na cerimônia, e fala sobre o dever de manter viva a memória e luta contra a ditadura militar.

Qual a importância do prêmio Vladimir Herzog para a luta pelos direitos humanos?
Conheço pouco da história do prêmio. De todo modo, acho importante que haja uma premiação para trabalhos nessa área, e que leve o nome do jornalista Vladimir Herzog, um dos símbolos da luta contra a ditadura militar, grande vítima das violações do período.

Como você avalia a atuação dos jornalistas hoje em relação ao tema dos direitos humanos?
Acho que ainda é insuficiente. Não que não haja matérias que tratem da questão dos direitos humanos nos veículos de comunicação da grande imprensa, mas, muitas vezes, elas não vão ao cerne da questão. Por exemplo: quando se faz uma matéria sobre trabalho escravo no corte da cana, mostra-se a super exploração do trabalho, as condições subhumanas de moradia, alimentação. Mas, raramente vemos a contextualização desse problema: quem está por trás disso. Sabemos que o trabalho escravo no corte da cana é resultado de um modelo de desenvolvimento capitalista adotado no país, priorizando o agronegócio, concentração de renda e de terra.

Há também uma diferenciação em relação aos direitos humanos: quando se trata de violações de direitos humanos de comunidades pobres, sem-terra, índios, ou pessoas que cometeram crimes, o tratamento é diferente de quando a pessoa é de classe média. Quantas vezes não vimos matérias que "absolvem" os violadores, quando a vítima é um presidiário ou um suspeito de cometer um crime?

Como você avalia a posição do governo em relação à responsabilização de torturadores?
Acho que há diferentes posições dentro do governo. Acredito que a posição do ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos é a mais progressista dentro do governo Lula. Tanto ele, quanto o ministro da Justiça, Tarso Genro defendem a responsabilização dos crimes cometidos por agentes do Estado durante a ditadura civil militar, mas não encontram eco de outros setores do governo, e assim, estão isolados.

A postura do presidente Lula em relação ao tema me parece lamentável, pois ele não se posiciona publicamente, além de tentar enquadrar Genro e Vanucchi. Há ainda os setores conservadores, que praticamente se colocam em defesa dos torturadores, como o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes. O Brasil está muito, mas muito atrasado no que se refere à responsabilização dos crimes da ditadura. Nossos vizinhos do cone sul, Argentina, Uruguai e Chile, estão muito à frentre de nós, colocando os torturadores da ditadura no banco dos réus.

O que significou, para você, a extinção da ação na Justiça de São Paulo, que responsabilizava o coronel reformado do Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra, pela tortura e morte do seu tio Luiz Eduardo Merlino?
Foi um choque, uma grande derrota. Considero escandaloso que tenhamos tamanha dificuldade de ganhar uma ação civil declaratória, sendo que, como disse antes, os nossos vizinhos estão colocando os torturadores na cadeia.

Você e sua família pretendem continuar lutando pela responsabilização do ex-coronel Ustra?
Certamente. Estamos entrando agora em dezembro com um recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e se perdemos novamente, iremos à Corte Interamericana de Direitos Humanos. No dia que a ação foi extinta, nosso advogado, Fábio Comparato, disse uma frase que tomei como lema para esse caso: "Lutar sempre, vencer às vezes, desistir jamais". É assim que encaramos essa luta.

Você acredita que o fato de a justiça ter reconhecido a ação movida pela Família Teles pode ajudar na ação movida por sua família?
Acho que pode nos ajudar, sim. A sentença da justiça paulista é uma vitória não só dos Teles, mas de todos aqueles que lutam pela responsabilização do coronel Ustra e de outros assassinos, torturadores que permanecem impunes. A vitória deles serve como um precedente, abre jurisprudência para a ação da minha família e de outras famílias que queiram ingressar com outras ações.

A Ciência em Campo Minado

A ditadura militar não poupou nenhum campo da sociedade civil brasileira. Se já não bastasse impedir o livre pensamento político e a manifestação cultural, o duro regime impediu o progresso científico brasileiro, por meio de demissões, aposentadorias e o impedimento de cientistas renomados de exercerem seu trabalho.

O regime militar foi um período marcante na história do país, por toda obscuridade que o cercou, pela repressão e pelo desrespeito aos direitos humanos promovido por aqueles que estiveram a frente do governo da época. O General Camilo Castello Branco, a partir de abril de 1964, que havia prometido uma política democrática, assumiu uma postura totalmente autoritária para impor pela violência o novo projeto de Brasil da burguesia industrial e financeira conservadora aliada à burguesia internacional.

Casos de repressão e tortura foram freqüentes durante a ditadura. A população brasileira sofreu com uma política que não garantia nenhum direito de cidadania.
O período ditatorial afetou vários setores da sociedade, como o campo político, o cultural, o educacional e, inclusive, o campo científico, que exemplifica bem o que a ditadura foi capaz de fazer. O objetivo era reprimir um projeto de Brasil voltado para o desenvolvimento do país livre e soberano.

Como é o caso de alguns professores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo(FMUSP), que durante o regime foram presos, demitidos ou aposentados compulsoriamente, impedidos de exercerem suas funções por suspeitas de envolvimento com movimentos que se contrapunham ao governo militar.

O professor e médico formado em Embriologia e Histologia, doutor Michel Rabinovitch, foi um dos cientistas brasileiros que sofreu com a repressão do regime militar. Ele foi investigado por uma comissão da FMUSP, acusado de ser comunista e de orientar alunos para subversão. Por conta disso, Rabinovitch decidiu sair do país e passou a morar nos Estados Unidos.

Para o doutor, passar por esse processo foi “obviamente desgostoso para não utilizar palavras mais forte”. “O assassinato de Vladimir Herzog e outros me perturbaram bastante”, relata. O professor conta que juntamente com alguns compatriotas nos Estados Unidos, ele tentou denunciar os crimes cometidos na ditadura, porém sem sucesso.

Rabinovitch voltou ao Brasil somente em 1980, com a anistia. Ele conta que recuperou seu cargo por uma hora e foi aposentado pela USP. O professor dirige, atualmente, um laboratório na Escola Paulista de Medicina (EPM), departamento de Micro, Imuno e Parasitologia.

O caso do doutor e professor Erney Plessmann de Camargo, especialista em Parasitologia, também não foi muito diferente. O médico foi demitido de seu cargo e, em seguida, se mudou para os Estados Unidos, onde trabalhou como docente na Universidade de Wisconsin. “O interessante é que o Departamento de Estado americano não fez nenhuma objeção à imigração de um subversivo”, comenta. As pesquisas do ciêntistas estrangeiros favoreciam o desenvolvimento dos EUA no campo ciêntifico, por este motivo eles eram tão bem acolhidos.

Antes da demissão, Camargo e seus colegas se associaram a organizações de intelectuais progressistas dos mais variados tipos sem qualquer vinculação partidária. “Alguns, eu inclusive, estavam próximos do Partido Comunista, mas apenas um ou outro era filiado ao Partido. Tornamo-nos contra o regime militar depois que ele foi instalado, mas até então éramos puramente legalistas e continuamos assim”, relata.

Submetido a um processo junto a Justiça Militar por atividades subversivas, Camargo foi absolvido, mas dois de seus companheiros foram condenados pela Justiça Militar, presos no Navio Raul Soares, e depois libertados.Doutor Erney Plessmann de Camargo voltou ao Brasil a convite da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Porém, ao chegar no país, não tomou posse como docente por causa do Ato Institucional nº5. Ele trabalhou como assessor na Editora Abril, que acolheu muitos intelectuais perseguidos, e trabalhou também em um Laboratório de Análises e na Escola Paulista de Medicina, como professor de Parasitologia.

Em 1985, Camargo resolveu prestar concurso para professor titular na USP, onde foi aprovado e ficou até se aposentar, em 2005. Atualmente, ele é professor Emérito do Instituto de Ciências Biomédicas e também da Faculdade de Medicina, de onde foi demitido em 1964. O médico se dedicou desde o início de sua carreira ao estudo do Trypanosoma cruzi e, até hoje, suas obras literárias são referência obrigatória sobre a doença de Chagas.

Para o doutor Erney Plessmann de Camargo, foi positivo ter participado desta mudança de comportamento. “Confesso que foi um momento histórico de muita curiosidade e questionamento cultural. Foi interessante observar a transformação cotidiana e súbita de um país tradicionalmente conservador”, opina.

A ciência foi vítima do regime militar, tanto quanto a cultura, a educação e a participação política, pois era um dos instrumentos de conquista da soberania brasileira. Ser culto, instruído, produtor de sua própria ciência e tecnologia é o mesmo que ser livre. A ditadura rompeu o projeto do Brasil livre e soberano sonhado nos anos 1950 e 1960 para impor pela violência o projeto de dominação imperialista.

Hoje, as pesquisas realizadas por cientistas brasileiros trazem uma esperança de um país que caminhe com as suas próprias pernas, se desenvolva em prol de toda a sociedade. A ciência a favor da humanidade.

Colaboradores
Ana Paula Oliveira Gomes
Michelle Amaral
Silvia Gonçalves

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

A Igreja dos pobres

Assista o filme de Helvécio Ratton baseado no livro de Frei Betto.
Visite também o site http://www.batismodesangue.com.br/

A separação entre religião e política faz parte do ideário republicano. No Brasil, desde o final do século XIX, esta separação habita a república de nossos sonhos. Ao mesmo tempo, bem o sabemos, na história do Brasil real, com variações surpreendentes em termos de perfil ideológico de candidatos e partidos, instâncias da Igreja Católica, denominações evangélicas históricas, líderes das religiões espíritas Kardecistas e afro-brasileiras participaram de acordos eleitorais. Ao longo dos anos, estes “funcionários religiosos” influenciaram a política a partir de seus templos, Igrejas, centros e terreiros sem enfraquecer a “comunidade religiosa”, sem colocar em risco sua razão de ser. Uma condição histórica garantia a ordem das coisas: a hegemonia da Igreja Católica no Brasil. Religião dominante, sem concorrentes à altura para competir na influência política.


João Elias Nery, 45 anos, pós-doutor em Comunicação Social, nos contou um pouco sobre sua experiência pós-regime militar, época em que o fantasma da tortura e de todo o sofrimento passado por professores e amigos mais velhos se refletiu em sua geração. Nery começou na vida política na década de 1970, no período um pouco mais tranqüilo em relação a ditadura. Estudou em um colégio Católico o que lhe proporcionou participar de grandes debates entre a parte conservadora da igreja e a progressista, também participou de grupos de jovens de Igrejas Católicas da Zona Sul, e mais tarde como católico na campanha de fundação do Partido dos Trabalhadores, momento que mais participou da militância católica progressista, ajudando na elaboração de material de divulgação, campanhas para jornais da imprensa alternativa e participação da organização de atos contra o regime e pela democratização.

Sua relação com a Ditadura esta inicialmente ligada a Professores e Amigos que viveram a primeira fase?
Sim. Estudando em um colégio salesiano e trabalhando em uma agência de publicidade na adolescência convivi com professores e publicitários que se envolveram na luta contra a ditadura. Também a participação em grupos de jovens católicos teve essa característica, colocando-me diante dos problemas políticos e econômicos vividos pela população mais pobre da cidade de SP.

Como foi o período ditatorial em sua vida? O que mudou? Quais foram as dificuldades?
A ditadura era algo que pairava acima e além da vida dos brasileiros que levavam uma "vida normal": de casa para o trabalho, do trabalho para casa. Ela estava lá, mas a maioria não percebia. Como diz Chico Buarque "Dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída...". Como membro de uma dessas famílias, acompanhei de longe, ainda na infância o movimento dos militares. Eles nos obrigaram a cantar os hinos, a ter aulas de disciplinas que visavam nos fazer aceitar a ordem estabelecida, a ver a tevê na qual o Brasil era uma ilha de paz em um mundo dividido pela guerra fria. Cresci, virei adolescente e aí vieram os problemas: este livro não pode; aquele filme não é bom para sua formação; o trabalho pastoral deve ajudar as pessoas a entender que o mundo é assim mesmo. A família começou a se preocupar: um comunista na família!!! A solução: chamar o padrinho de crisma, padre, para dar uns conselhos. Não adiantou, pois já tinha entrado no mundo da dúvida, do questionamento. O conservadorismo da família de classe média e dos padres salesianos não foi capaz de alterar isto e, até o final dos anos 1970, me envolvi com atividades lícitas ou não como "área de influência" de grupos políticos.
Quando e como a Teologia da Libertação surgiu em sua vida?
A teologia da libertação surge no âmbito da própria família, que designou um padre das relações familiares para ser padrinho de crisma. Ele não era ligado à teologia da libertação, mas tinha amigos que eram e a igreja que freqüentei no período ficou dividida entre ações assistencialistas e a ação política. No grupo de jovens também aconteceu. A juventude católica envolveu-se diretamente com o movimento e eu "embarquei".

Em sua opinião existia algo semelhante no mundo?
A teologia da libertação é uma leitura engajada, em uma perspectiva crítica, da bíblia. Ela teve grande importância em diversos países, principalmente na América Latina. É uma resposta da igreja católica ao mundo da guerra fria e, como ela, outras religiões buscaram respostas àquela situação. Na cultura ocidental ela é a mais expressiva, mas entre os evangélicos também há movimentos de resistência, como o representado por pastores negros nos EUA, por exemplo. No oriente, há diversas manifestações que emergem no pós segunda guerra, entre japoneses, chineses e no oriente médio. O islamismo que vemos hoje opor-se à política estadunidense é uma resposta à crise de valores do ocidente cristão.
O colégio católico pode ser considerado sua base em relação a sua militância com a teologia da libertação?
Não. os salesianos configuram-se como ordem conservadora na igreja católica. Seu conservadorismo acabou por me levar a buscar respostas diferentes aos problemas que via. As aulas de religião, Educação Moral e Cívica, a extrema disciplina à qual éramos submetidos geraram um inconformismo que a militância na juventude católica com orientação da teologia da libertação foi capaz de superar.
Qual sua visão histórica sobre a Teologia da Libertação?
A teologia da libertação surge em um contexto político no qual a igreja católica faz uma opção "pelos pobres". É uma elaboração teórica a partir da história do século XX, dos conflitos do período pós segunda guerra mundial e indica práticas de envolvimento político dos militantes católicos. Há um filme sobre a revolução sandinista nicaraguense, "Sob fogo cerrado", dos final dos anos 1970, no qual um padre, com o perfil da teologia da libertação, preso pelo governo do ditador Somoza, diz a um jornalista estadunidense também preso: de que lado você está. O jornalista diz que só cobre a guerra, que não tem lado. O padre responde: vá para casa. A teologia da libertação era isso: era preciso escolher um lado.
Atualmente desenvolve algum projeto relacionado á ditadura?
Minha carreira acadêmica tem os anos 1970/1980 com referência, ou seja, pesquiso mídia e sociedade durante a ditadura. No mestrado, analisei o humor gráfico da grande imprensa e da imprensa alternativa; no doutorado, charges no pós-ditadura; recentemente concluí um pós-doutorado no qual estudo a censura a livros na década de 1970.
Qual sua visão sobre a figura do Papa na igreja católica? Apóia ou não o estereótipo formado historicamente?
Vivemos num mundo simbólico. O Papa é um ícone da cultura católica. Mais que um estereótipo, é uma referência de uma cultura estabelecida. Como imagem, cumpre o papel de unificador. Se deixar de fazer isto, a igreja católica se desintegrará. Como não me considero mais católico, apesar da cultura religiosa permanecer como uma referência, não vejo importância na figura papal, com seu conservadorismo explícito.
Como o governo brasileiro reagiu diante da teologia da libertação no período da ditadura militar?
Com o que sabemos por livros como "Batismo de Sangue" ou relatos de padres que sobreviveram às perseguições: violência, intolerância, assassinatos.





    Frei Tito foi preso por participar de um congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes em Ibiúna. Foi fichado pela polícia e tornou-se alvo de perseguição da repressão militar. No dia 04 de novembro de 1969, foi preso juntamente com outros dominicanos pelo delegado Sérgio Fleury, do DOPS. Durante cerca de trinta dias, sofreu torturas nas dependências deste órgão. No dia 10 de Agosto de 1974, seu corpo foi encontrado suspenso por uma corda. A causa da morte – suspeita de suicídio – tornou-se um enigma.



BREVE CRONOLOGIA DA IGREJA CATÓLICA

1955 - I Conferência Episcopal Latino-Americana, no Rio de Janeiro/CELAM. Fundação da mesma
1962-1965 - Concílio Vaticano II
1964 - Golpe civil-militar no Brasil
1967 – 26/03 - Encíclica Populorum Progressio, de Paulo VI.
1968 - 26/08 a 06/09 - II Conferência Episcopal Latino-Americana, em Medellín (Colômbia)
1979 - Conferência de Puebla
1980 - Morre assassinado em El Salvador o arcebispo Oscar Arnulfo Romero.
06/8/1984 - “Instrução” da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a Teologia da Libertação
07/9/1984 - Imposição de silêncio a Leonardo Boff, um dos principais teólogos da libertação do Brasil.
1999 - Morre Dom Hélder Câmara, criticado pelas direitistas como o “bispo vermelho”, um dos representantes da Teologia da Libertação.


Esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar: em 1964, por 15 dias; e entre 1969-1973. Após cumprir 4 anos de prisão, teve sua sentença reduzida pelo STF para 2 anos. Sua experiência na prisão está relatada no livro Batismo de Sangue. O livro descreve os bastidores do regime militar, a participação dos frades dominicanos na resistência à ditadura. Atualmente, Frei Beto é militante de movimentos pastorais e sociais.

Ditadura: Memórias dos Trabalhadores de São Miguel Paulista

Em São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo, a memória ainda dói

No tempo do "Brasil, Ame-o ou Deixei", quem não tinha carteira de trabalho ia para o camburão, operário comunista acabava morto

Francisco Adenir dos Santos, 53 anos, natural do Paraná, chegou em São Miguel Paulista em 1967

“Para ir a um bar precisava ter a carteira profissional assinada e o holerite do mês. Se não tivesse os militares botavam num camburão, dava voltas com a pessoa e a deixava num lugar distante de onde a encontraram.Os militares batiam na cara de qualquer um, mesmo sem motivo aparente.”

“Havia muitas vagas de emprego. Eu trabalhava na Metal Arte, mesma empresa que o operário Manuel Fiel Filho trabalhou. Manuel foi preso, toturado e assassinado porque era comunista e recebia o jornal Voz Operária. Ele foi morto dia 17 de janeiro de 1976. Os responsáveis disseram que ele tinha se suicidado com suas próprias meias, mas colegas de trabalho afirmam que ele estava de chinelo."

"O DOI-CODI machucava e calava. Colavam adesivos nos carros com o seguinte dizer: Brasil, ame-o ou deixe-o. Ou: Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil.” Era a publicidade do regime militar."

Não lia jornal e assistia pouco a TV, porque trabalhava muito


Geralda Clementino dos Santos, 48 anos, natural da Paraíba, chegou em São Miguel Paulista em 1980


" Eu não sabia o que era a ditadura, não senti o impacto nem testemunhei nenhuma cena. Por conta do trabalho, não lia jornal e assistia pouco a TV, porque trabalhava muito para sustentar a família".

Algumas pessoas que eles pegavam nunca mais eram vistas


Socorro Almeida Santos, 46 anos, natural de Pernambuco, chegou em São Miguel Paulista em 1983

"Eu me recordo que a família comentava comigo. Diziam que os militares faziam motins e que algumas pessoas que eles pegavam nunca mais eram vistas".

Eu tinha que andar com holerite e carteira profissional


Cintra Paulo Maia, 74 anos, natural do Ceará, chegou em São Miguel em 1967.

"Lembro que tinha que andar com holerite e carteira profissional. Não sei quanto tempo isso durou."

Não sei o que foi a ditadura


Maria Rosa de Santana, 67 anos, natural da Bahia, chegou em São Miguel Paulista em 1963

" Não sei o que foi a ditadura".

Qualquer um que falasse qualquer coisa ia preso

Antônio Joaquim de Santana, 72 anos, natural da Bahia, chegou em São Miguel Paulista em 1953

"A ditadura era o militarismo. Vi um rapaz sendo preso. Qualquer um que falasse qualquer coisa ia preso."

Militares usavam cavalos


Margarida Maria de Moraes Cabral, 60 anos, nasceu e ainda mora em São Miguel Paulista


"Lembro que a minha mãe foi até a Praça da Sé e lá havia uma manifestação, militares usavam cavalos... não lembra o ano".

Foi preso porque estava sem camisa


Vanda Borges de Moraes, 59 anos, nasceu e mora em São Miguel Paulista

"O meu irmão foi para um bar jogar e como estava sem camisa ele foi preso. Para soltarem ele, meus pais levaram os documentos. Por sorte o encontraram na delegacia antes de levá-lo para outro lugar".

Eu me casei no ano das Diretas Já

Maria do Socorro Clementino de Souza, 43 anos, natural da Paraíba, chegou em São Miguel em 1980
" A ditadura é o poder militar. Me lembro do movimento Diretas Já, porque foi no ano em que eu me casei, em 1984."

Não testemunhei nada

Manuel Enéias de Souza, 52 anos, natural da Paraíba, chegou em São Miguel Paulista em 1975
"Não sei o que foi a ditadura e não testemunhei nada".

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Saiba como ajudar as vitímas das chuvas em Santa Catarina




A Defesa Civil de Santa Catarina abriu oito contas para receber doações destinadas às vítimas das chuvas no Estado. Os depósitos podem ser feitos no Banco do Brasil, Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), Bradesco, Itaú e na Caixa Econômica Federal.


Veja os números das contas:


Caixa Econômica Federal - agência 1877; operação 006; conta 80.000-8
Banco do Brasil - agência 3582-3; conta corrente 80.000-7
Besc - agência 068-0; conta corrente 80.000-0
Bradesco - agência 0348-4; conta corrente 160.000-1
Itaú - Agência 0289, conta corrente 69971-2




Centros de arrecadação




  • A Cruz Vermelha Brasileira e a Comdec (Coordenadoria Municipal da Defesa Civil-SP) anunciaram a criação de postos para arrecadar doações para as vítimas das chuvas que atingem Santa Catarina.A arrecadação vai funcionar 24 horas na sede da Comdec --na rua Afonso Pena, 130, no bairro Bom Retiro--, e na sede da Cruz Vermelha Brasileira --na avenida Moreira Guimarães, 699, no bairro Saúde.Os postos vão receber doações de roupas, calçados, cobertores, fraldas, água potável, material de higiene, alimentos não perecíveis, entre outros.



  • Supermercados da Rede Pão de Açúcar: as mais de 500 lojas do Grupo Pão de Açúcar, que abrangem as redes de supermercados Pão de Açúcar, CompreBem, Sendas, hipermercado Extra e também na rede Assai, presentes em 14 estados brasileiros e Distrito Federal, recebem doações até o dia 7 de dezembro. O material arrecadado será levado à Santa Catarina através do sistema logístico da empresa.


  • A água poderá ser entregue na Defesa Civil dos municípios, além dos órgãos de segurança do governo estadual, como polícias Civil e Militar e Corpo de Bombeiros.


OBS: Todas essas informações foram retiradas da Folha de S. Paulo