sexta-feira, 5 de junho de 2009

Entrevista com Waldemar Rossi - Um sobrevivente da ditadura


O Senhor que participou da luta contra a ditadura e outras lutas que conta a história do Brasil tanto na luta trabalhista, quanto aos direitos civis, na sua opinião, qual momento de lutas, os resultados poderiam ter sido melhores?

O que eu posso dizer, ao longo de todos esses anos, a minha consciência adquirida em 54 anos de luta, é que não tem harmonia entre exploradores e explorados, é uma luta permanente, a ditadura veio a aprofundar porque passou a massacrar e reprimir a classe trabalhadora, tentando submetê-La cada vez mais a exploração do sistema capitalista, e junto com a ditadura, nasceu também uma forma de resistência, sobretudo de uma juventude daquela época que não aceitava o modelo antigo e queria mudanças, foram anos difíceis, em que muitos companheiros foram presos, assassinados, muitos perderam o emprego, eu por exemplo, em 25 anos de metalúrgica, perdi o emprego 17 vezes, enfim, a repressão era uma repressão forte, e nós fomos lutando contra isso e tivemos vitórias que com o tempo, agente conseguiu fazer uma boa organização de base dentro das fabricas que veio estourar no ano de 78, e depois fomos conquistando alguns direitos, recuperando alguns conquistando outros, e ao mesmo tempo fomos derrotando a ditadura militar, focando a retirada dos militares do poder, más é uma coisa impressionante , naquela época, a falta de um partido, uma organização política mais avançada que oferecesse um projeto alternativo de sociedade, a falta disso permitiu que a burguesia se reorganizasse e passasse uma nova forma de dominação, agora sem os militares, más com os mesmos instrumentos de repressão que tinha naquele tempo, e hoje nós estamos pagando um preço caro, o capitalismo, que foi concentrando cada vez mais poder de produção e poder de exploração da classe trabalhadora, foi colocando os trabalhadores pra fora com as novas tecnologias, explorando mais os que restam dentro do trabalho formal e com isso tentando liquidar com os direitos que nos conquistamos ao longo dos anos, então é uma luta árdua que leva agente a repensar a cada vez como que nós devemos trabalhar. Tem um outro dado importante pra poder dizer para vocês, é que aquilo que nós construímos ao longo dos anos, e essa é a coisa que nós construímos que foi a CUT, é que estes instrumentos se venderam para o Capital, o PT se vendeu, a CUT se vendeu, o PCdoB se vendeu e tantos outros, e tantos outros que estão ligados a grandes empresas, no dia de hoje, de 1º de maio, estão fazendo shows para calar a consciência dos trabalhadores, para fazer os trabalhadores não celebrarem ou os mais novos não tomarem conhecimento de milhares que foram assassinados ao longo desses anos todos do Capitalismo Industrial e nas lutas por conquistas de direitos, então isso é o lado triste, más por outro lado nós temos isso que você esta vendo hoje aqui, neste 1º de maio na Praça da Sé, mais de cinco mil trabalhadores e trabalhadoras, que não vieram para o show, vieram para dizer, nas continuamos resistindo, e ai nós temos as pastorais sociais, o movimento dos sem teto, o movimento dos sem terra, a intersindical que forma um grupo de sindicatos que resistem, a Conlutas que também já é uma central e que vem encabeçando essas lutas, isso é sinal de nossa resistências e nós queremos avançar para isto, aos poucos a classe trabalhadora vai tomando conta das contradições e também das contradições das próprias centrais sindicais, por isso nós temos uma postura de esperança, só que nossa esperança não se coloca naquilo que mudou de lado, nossa esperança se coloca naqueles que querem construir uma nova sociedade

Há algumas gerações, talvez a vinte anos atrás, nós tínhamos na escola pública um nível de ensino, o qual comparado ao de hoje, é significantemente inferior, o senhor acha que este fator é um dos elementos que o governo usa para auxiliar na manipulação da consciência e impedir que o estudante desenvolva uma visão critica sobre o governo e passar a criticar-lo ao invés de simplesmente aceitar o que lhe é imposto, ou não saber como reivindicar seus direitos de forma eficaz?

Você falou vinte anos, eu quero pegar um pouco mais de tempo, porque quando eu era jovem, garoto ainda eu fiz o primário, que eram quatro anos, e em quatro anos de escola eu aprendi mais do que os garotos que hoje fazem 9 anos de escola, então a ditadura militar sobre tudo, começou a provocar o rebaixamento do sistema de educação expulsando das faculdades e das escolas todos aqueles professores e professoras que despertavam a consciências critica de seu povo e foram impondo um novo modelo aonde as idéias, a visão do mundo, não era uma visão do mundo em conflito, más a visão do mundo do capital, tentando matar a consciência critica do povo, isso foi progressivo, porque isso não é de um dia para o outro, más a partir do ano de 1994 se deu uma coisa pior, o governo do PSDB que assumiu com Fernando Henrique Cardoso no Nacional, e aqui em São Paulo com o Covas, eles fizeram algo pior, eles eliminaram das matérias básicas, aquelas matérias que ajudam a criança a pensar, o jovem a pensar, tudo que se relaciona com sociologia, com psicologia, tudo isso foi eliminado, aulas de história foram reduzidas, aulas de geografia foram reduzidas, porque era preciso realmente como você disse, rebaixar o nível de entendimento do povo, para que o povo não aprenda a pensar, para que o povo não tenha senso critico, e assim eles poderem dominar, e isso é um projeto do capital, então os governos são governos que estão fazendo o jogo do capital, por isso quando alguém disse aqui que o nosso inimigo é o capital, eu digo que nossos inimigos são todos aqueles que fazem o jogo do capital, seja ele quem for, então mesmo um trabalhador que chegou a presidência da republica, más ele esta fazendo o jogo do capital, contra os interesses dos trabalhadores, ele é nosso inimigo, não vai dizer que ele é amigo, amigo não apunha-La os outros pelas costas, amigo não saqueia a casa do outro, amigo não rouba o salário do outro, amigo não corrompe os outros, por isso que eu digo que estamos em uma situação delicada,

Este primeiro de maio simboliza luta, luto acima de apenas festa, frente isso, quais são as reivindicações para este primeiro de maio em frente a crise mundial que vivemos hoje?

A primeira coisa que nós temos de fazer, é resistir aos ataques que estão fazendo em cima dos direitos dos trabalhadores, lutar para que nenhum direito seja retirado e não esta fácil porque as centrais sindicais como a CUT, a CTB, a Força Sindical já estão negociando os nossos direitos, nós temos que continuar a resistência, a segunda coisa que nós temos de fazer é forçar o governo a usar o dinheiro do orçamento, que é dinheiro que sai dos impostos, que sai do nosso bolso e aplicar isso na reforma agrária, aplicar isso na produção de moradia populares, aplicar isso na reestruturação total do sistema de saúde publica, no sistema de educação, uma educação para revolucionar o País e não para submete-lo a dominação dos outros, que a use isso para aplicar nos setores carentes para o povo porque esses setores geram trabalho, distribuição de renda, geram mais justiça social, e permite fazer o país crescer e se desenvolver com justiça e não sem justiça, esse é o nosso grande objetivo.

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