Manifestação do 1º de maio na Praça da Sé marca a luta do trabalhador contra a crise econômica e o desemprego
O trabalhador brasileiro não deve pagar pela crise. Com esse mote, a Praça da Sé foi tomada por diversas representações da esquerda nacional, no dia 1º de maio deste ano. Longe de ser uma celebração como a das grandes centrais sindicais, o ato organizado pela Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas), Intersindical (Instrumento de Luta e Organização da Classes Trabalhadoras e demais movimentos sociais e de esquerda, teve como principal função a manifestação contra as mais recentes medidas do governo Lula para diminuir os efeitos da crise.
O dia começou com uma missa em homenagem aos trabalhadores, na Catedral da Sé. A emoção tomou conta do local, quando várias pessoas adentraram a igreja, com faixas e cartazes onde se liam os nomes de familiares perseguidos e mortos no período da Ditadura Militar, réplicas ampliadas de carteiras profissionais, e algumas senhoras amordaçadas com lenço preto, em alusão às torturas sofridas pelos censurados no regime ditatorial.
Catedral da Sé, lotada na missa em homenagem ao trabalhador.
Esteve presente à missa na Catedral o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Em entrevista coletiva, o senador afirmou que o pacote anticrise do governo federal que, dentre outros itens, implica na redução do IPI, faz com que a roda da economia gire, aumentando o consumo e, consequentemente, diminuindo o desemprego na indústria automobilística. A afirmação de Suplicy atinge diretamente alguns setores da esquerda nacional, que afirmam que as medidas adotadas pelo governo federal visam beneficiar apenas os patrões, sem proteger o emprego dos trabalhadores.
Logo após a missa, a praça da Sé foi tomada por bandeiras vermelhas, e cerca de 1500 pessoas lotaram o espaço próximo ao palco, montado em frente à Catedral. A manifestação teve início com as falas dos dirigentes da Conlutas, José Zafalão, e da Intersindical, Edson Carneiro. Os dois enfatizaram o caráter de luta e manifestação que deveria permear as comemorações do 1º de maio, e criticaram a posição das grandes centrais sindicais, como CUT e Força Sindical, que preferiram celebrar o dia do trabalhador com festas e sorteios de prêmios.
Em entrevista para a reportagem do Blog Cidadão, Zafalão disse que um dos motes do ato na Praça da Sé era contra as demissões na Embraer. Segundo ele, a Embraer, na mesma semana que anunciou a demissão de mais de 4000 funcionários, dividiu bônus dos lucros obtidos pela empresa em 2008 entre os seus dirigentes. “O governo está usando o dinheiro que deveria ajudar os trabalhadores para ajudar as empresas que estão demitindo, ou seja, ele acaba financiando as demissões”. Para ele, o governo deveria priorizar a reestatização das empresas públicas, como a Embraer e a Vale.
Zafalão diz ainda que a solução para que os trabalhadores possam enfrentar a crise é uma união da esquerda nacional. “Deveríamos fazer no Brasil como foi feito na França, unir as centrais de esquerda, como a Conlutas e a Intersindical, e criar uma central sindical única”. O ato da praça da Sé, segundo ele, tem como função mostrar que uma parcela da categoria trabalhista não se vendeu, e que apenas a mobilização e a unificação das categorias é que irá afastar a crise. “Os ricos criaram a crise, então eles que paguem. Quando há o lucro, eles que recebem. Quando vem a crise, eles querem jogar para cima dos trabalhadores. Não podemos deixar isso acontecer”.
Faixa de manifestação do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Ele explicou ainda que a grande diferença entre a festa da CUT (que reuniu grandes nomes da música brasileira) e o ato realizado pelas centrais de esquerda (com a presença de músicos e artistas populares), é que “aqui não tem financiamento de banqueiro e montadoras de carro”, como foi feito na festa da CUT que, dentre outras coisas, sorteou vinte carros zero quilômetros.
O Blog Jornal Cidadão conversou ainda com o presidente do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), Dirceu Travesso. Para ele, a expectativa para o 1º de maio era afirmar outra alternativa perante a crise
econômica. Quanto às providências tomadas pelo governo para enfrentar a crise, o líder partidário afirmou que tudo está muito superficial e que o país vai acabar sentindo isso futuramente: “A indústria automobilística tem um crescimento momentâneo, mas é como se você estivesse cavando debaixo do seu pé para tapar o buraco que está do lado. Então mais cedo ou mais tarde o buraco vai aumentar, não diminuir”.
Os manifestantes presentes ao ato também tinham outros motivos para o protesto, que não apenas a crise econômica. Um engenheiro de petróleo da Petrobrás, que não quis ser identificado, disse à equipe que não havia sofrido os efeitos da crise, porém muitos trabalhadores terceirizados, da refinaria de Santos, sofrem com as péssimas condições de trabalho da estatal. O engenheiro relatou que, para continuarem empregados [trabalhadores terceirizados da Petrobras] acatam as condições oferecidas. Ele informou ainda que, do ano de 2002 até agora, morre, em média, 1 funcionário por mês – média nacional da empresa – pela insalubridade e exposição direta ao benzeno (substância tóxica e cancerígena, presente no petróleo). O funcionário alega que há falta de investimento em prevenção a acidentes e os trabalhadores terceirizados são muito expostos à substância citada.
O ato teve duração aproximada de quatro horas e não houve nenhuma ocorrência grave no decorrer da sua realização.
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