sexta-feira, 5 de junho de 2009

1º de Maio - Protesto ou Espetáculo

O grito dos trabalhadores, nesse 1º de Maio, veio da Praça da Sé.

O que se presenciou na manhã do dia 01 de maio de 2009, em frente à Catedral da Sé, não foi uma grande festa em homenagem ao trabalhador, muito menos uma parabenização pelo seu dia, muito pelo contrário, nesse dia, no marco zero da Cidade de São Paulo, houve o grito do trabalhador em protesto. O dia será lembrado como um ‘espetáculo’, mas sem comemorações, pois não há o que se comemorar e, sim, protestar.

O Ato foi movido pelo lema: “Os trabalhadores não vão pagar pela Crise” e teve como organizadores, CONLUTAS (Coordenação Nacional de Lutas) e INTERSINDICAL (Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora). Estiveram presentes, segundo a Polícia Militar, cerca de 1.500 participantes, entre eles, muitos militantes das duas frentes sindicais citadas, de partidos políticos como o PSTU, PSOL e de várias organizações e movimentos sociais, como a UNEAFRO e o MST.

Os protestos, vindos de trabalhadores e de muitos estudantes que não optaram por participar da grande festa na Avenida São João e, também, no Itaim Paulista – zona leste da cidade –, exigiram do governo mais atenção à classe trabalhadora e disseram ser contra as reduções dos direitos trabalhistas e demissões.

Além do levante para um olhar à classe trabalhadora, muitos manifestantes chamaram a atenção de todos os presentes para questões de pouco destaque nas grandes mídias, como exemplos: o preconceito contra os nordestinos; o aborto; assédio sexual e moral contra as mulheres; racismo e privatizações.

Numa visão panorâmica do local, era possível se deparar com vários banners, cartazes e panfletos de protestos. À direita, os cartazes: “Protógenes contra a Corrupção”, “A Embraer é nossa, reestatização já!”, “Quem manda é o povo e não o Capital” e à esquerda: “Intersindical, nenhum direito a menos”, “Crise na Educação, a culpa é de Serra e Lula, não dos professores”.

Antes do início do Ato, diversos participantes lotaram a missa na Catedral da Sé, ministrada pelo arcebispo Dom Pedro Luis Stringhini. A emoção contagiou a todos, quando várias pessoas adentraram a igreja, com faixas e cartazes com nomes de familiares perseguidos e mortos no período da Ditadura Militar, réplicas ampliadas de carteiras profissionais, e algumas senhoras amordaçadas com lenço preto, em alusão às torturas sofridas pelos censurados no regime ditatorial. A missa contou com a presença do senador Eduardo Suplicy (PT – SP) que falou com a equipe do blog Agência Cidadão, após o culto.

Segundo os discursos vindos do palanque em frente à entrada principal da catedral, o 1º de maio promovido pela Conlutas e Intersindical – o “dia de luto e luta” –, teve um caráter diferente do que foi promovido pela CUT e demais frentes sindicais. “Sem shows, discursos bonitos e contra as demissões”, afirmou José Zafalão – dirigente da CONLUTAS.

A presidente da Frente de Solidariedade à Palestina, Márcia Camargos – bem como todos os que discursaram no palanque –, não poupou críticas a Central Única dos Trabalhadores pelo evento patrocinado por bancos, dizendo que a postura do sindicato é “um desserviço à sociedade, uma alienação total promovida pela CUT, justamente agora, quando os trabalhadores devem e precisam ter consciência da realidade”.

O blog Agência Cidadão entrevistou o arcebispo Pedro Luis, após a celebração da missa e discurso a todos os participantes do ato. O clérigo avaliou positivamente as manifestações dos trabalhadores na Praça da Sé, classificando o ato como genuíno. Ao ser indagado sobre a crise econômica, o religioso disse se tratar de uma “ficção não criada pelo povo e sim, por um sistema vertical, arrogante.”

Ao som de músicas como “Vida de Gado” do cantor Zé Ramalho, interpretada por um cantor regional e do Hino dos Grevistas, a Praça da Sé hasteava bandeiras vermelhas, batia palmas em prol das manifestações populares e ovacionava cada discurso improvisado. Edson Carneiro, coordenador nacional da Intersindical, em um momento de crítica à CUT, incentivou uma vaia aos banqueiros. O público, sem hesitar, correspondeu com a iniciativa.

A equipe do blog perguntou à funcionária pública, Sueli Dias Pereira, que estava com a família e trajava uma camiseta da Conlutas, cheia de adesivos do sindicato, como seria um feliz 1º de maio. Sem pestanejar, nos respondeu, com firmeza na palavra, que teria de ser “com mais gente, buscando uma sociedade mais justa e avançando nas conquistas trabalhistas”.

Quando o Agência Cidadão perguntou a outro participante, se a crise o havia afetado, o engenheiro de petróleo da Petrobras, que não quis ser identificado, disse à equipe que não havia sofrido nada, diretamente, porém, muitos trabalhadores terceirizados, da refinaria de Santos, sofrem com as péssimas condições de trabalho da estatal.

O engenheiro relatou que, para continuarem empregados [trabalhadores terceirizados da Petrobras] acatam as condições oferecidas. Ele informou ainda que, do ano de 2002 até agora, morre, em média, 01 funcionário por mês – média nacional da empresa – pela insalubridade e exposição direta ao benzeno (substância tóxica e cancerígena, presente no petróleo). O funcionário alega que há falta de investimento em prevenção a acidentes e os trabalhadores terceirizados são muito expostos à substância citada.

O ato teve duração aproximada de três horas e não houve nenhuma ocorrência grave no decorrer da sua realização.

Colaborou Fernando Piovezam, de São Paulo.

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