quarta-feira, 17 de junho de 2009

Medo da gripe suína afasta espanhóis das ruas neste 1º de Maio


Foto: Arturo Rodriguez/AP


Roberta Zambelli acompanhou nas ruas de Madri o tímido 1º de Maio




Não é à toa que a Europa passa por um momento delicado de sua economia, é a recessão mais grave desde a Segunda Guerra Mundial. Só na Espanha, existe hoje mais de quatro milhões de desempregados, o equivalente a 17,36% de sua população ativa, é o maior índice de desemprego dos últimos dez anos.
Os trabalhadores espanhóis sentem a necessidade de uma reforma que redesenhe o atual modelo produtivo do país, pois torna-se imprescindível a criação de postos de trabalho e melhores condições trabalhistas para que aconteça a retomada do crescimento econômico.
Em todo o mundo, milhares de pessoas saem às ruas neste 1ºde Maio para reclamar por condições melhores de trabalho, por uma saída favorável da crise e pela extensão dos direitos sociais e sindicais. Apesar de ter ciência da própria situação econômica, o povo espanhol pouco fez para protestar por seus direitos.
Estive em Madri e percebi que os espanhóis não estão muito preocupados com isso... Sem passeatas, nem gritos, tampouco protestos. A oportunidade de demonstrar a grande insatisfação popular frente à crise financeira mundial passou despercebida neste 1º de Maio. Não por falta de motivos suficientes para os protestos, mas porque a atenção global estava voltada para um só motivo: A gripe suína. A epidemia mexicana, que se torna a cada dia a nova epidemia mundial. As emissoras de TV, rádio e jornais espanhóis estão voltados completamente para informar e divulgar dados sobre a infestação e praticamente se esquecem de mencionar o 1º de Maio.

Alguns protestos aconteceram em Berlim, em diversos pontos da Alemanha, na França, em Viena e na Itália. O 1º de maio voltou a ser feriado na Turquia depois de 30 anos, enquanto na Espanha, a importância de deixar a população informada sobre a gripe suína foi sem dúvida uma prioridade!!! Mas por que excluir totalmente quaisquer reportagens sobre o que está acontecendo, no único dia destinado ao protesto do trabalhador? Não seria uma tática dos meios de comunicação de massa e do interesse dos governos desviar a atenção popular para um problema de saúde pública, que existe e é de fato grave, mas é um problema que já está sendo contornado e logo não passará de uma gripe normal com direito a vacina? Talvez sim. Maquiar a única chance dos trabalhadores de pleitear melhores condições de trabalho com a idéia de que existem coisas piores...
Uma jogada política e a maneira certa para conter o desânimo de milhões de pessoas que sofrem os efeitos da crise mundial. A gripe vai passar, mas o desemprego continua... Quem sabe no próximo 1º de Maio....




Correspondente especial: Roberta Zambelli

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